Adilson Suzuki

Sou muito apaixonado por terra, essa foi a primeira área que desbravei, hoje valeu a pena

Adilson suzuki

Em setembro de 1987, Adilson Suzuki com apenas 23 anos, recém-formado em Zootecnia, decidiu sair de Ribeirão Preto (SP) para se aventurar nas terras desconhecidas do Oeste da Bahia. Ele chegou junto com um grupo de jovens agricultores selecionados no Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola dos Cerrados (PRODECER II). Os avós de Adilson são japoneses que migraram no período pós-guerra, sua família está instalada no Brasil há três gerações. Adilson sempre trabalhou com agricultura junto com seu pai, plantava milho e tomate. Ao chegar na Bahia teve o desafio de mudar para cultura de cereais, começando com o plantio de arroz e depois introduzindo a soja.  

O PRODECER foi instituído em 1979 por meio de uma cooperação técnica e financeira entre o Brasil e o Japão para o desenvolvimento produtivo da região dos Cerrados. Essa região, que hoje corresponde a uma área de 200 milhões de hectares, recebeu um projeto piloto de agricultura sustentável que se espalhou em sete estados brasileiros, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins, Piauí e Maranhão. Posteriormente foi criado o PRODECER II, inaugurando as primeiras atividades agrícolas na região Oeste da Bahia.

Placa do PRODECER II na Fazenda Aparecida em 1988 – Reprodução: Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA)

 A Companhia de Promoção Agrícola (CAMPO) ficou responsável por prestar toda assistência técnica aos agricultores recém-chegados, incluindo os projetos de custeio agrícola. O programa financiou desde a aquisição de terras, a compra de maquinários, insumos agrícolas, sementes, entre outros. As três primeiras safras eram custeadas pelo programa e depois os produtores buscavam financiamento com outras instituições.

O recrutamento dos agricultores foi realizado pela Cooperativa Agrícola do Cerrado do Brasil Central (COACERAL), montada em 1986 para dar suporte ao PRODECER II. Foram selecionados 38 produtores para o programa, sendo a metade descendente de japoneses vindos de Goioerê e Londrina no Paraná, o restante dos produtores já estavam instalados na região. A COACERAL operou por cerca de oito anos em Barreiras (BA), ajudou a estruturar uma vila agrícola para receber os produtores. Em 1987, a cooperativa abriu todas as estradas da região no entorno.

Obras da COACERAL em 1989 – Reprodução: Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA)

Adilson Suzuki levou o seu pai para trabalhar, enquanto os irmãos continuaram cuidando dos plantios nas terras arrendadas no município de Novo Horizonte (SP). A família conheceu o PRODECER por meio do primo de Adilson que morava em Brasília e tinha contato com os organizadores do programa.

Nos primeiros anos para chegar em Barreiras precisava dar uma volta pelo município de Dianópolis, eram duzentos quilômetros de chão e cem quilômetros de asfalto. Com trechos de serra, os produtores viajavam de camionete e nas subidas eram puxadas pelos tratores. Nas áreas mais afastadas de cultivo, não havia sistema de telefonia e toda a comunicação com o escritório em Barreiras era realizada via rádio pela cooperativa. Durante a entrevista, Adilson conta mais detalhes sobre como era a alimentação:

“De alimentação, a cooperativa ela mantinha um supermercado aí, né?! Lá na vila, tinha na estrutura da cooperativa, então eles traziam em um caminhão e deixavam em um mercadinho e a gente ia comprar lá, a gente comprava muita coisa ali, mas quando a gente ia para a cidade tinha que fazer algum serviço a gente aproveitava e trazia, na época era só enlatado, né?! [risos] Não tinha energia, não tinha geladeira.”

A energia elétrica chegou nesta área somente seis anos atrás, mas a fazenda Suzuki ainda não recebeu a instalação. Eles seguem fazendo agricultura usando geradores a diesel. Quando os agricultores chegaram na região, foi essencial construir uma rede de colaboração com reuniões frequentes e trocas de experiências sobre os primeiros plantios. Isso foi o que manteve forte a sua confiança em um futuro próspero.

Na década de 1990 o programa entrou em declínio após os problemas políticos no país. No início do programa a produtividade foi baixa por causa da falta de tecnologia para assessorar os plantios de soja. Houveram muitos prejuízos até que os agricultores aprendessem a lidar com as lavouras da região. Adilson fala que dos 35 produtores que chegaram junto com ele no início do programa, restaram apenas cinco. Alguns expandiram suas áreas de cultivo e continuaram produzindo com outras gerações na família.

Hoje Adilson Suzuki sente que toda a sua persistência valeu a pena, independente dos obstáculos que foram surgindo, ele relembra os motivos que o fizeram ficar no oeste baiano.

Adilson Suzuki e a sua esposa durante a entrevista em março de 2022 – Reprodução: Epopeia do Agro

“Então, eu sou muito apaixonado por terra, aí quando eu vim para cá foi a primeira área que eu mesmo desbravei, que eu vim para cá desde o começo, então, eu acho que foi uma paixão que me motivou a vir para cá. Eu que fiz tudo isso daqui, abri tudo, não tinha nada nem estrada, vou ficar! Com toda a dificuldade, mas vou ficar! Acho que hoje, se for pensar, o que a gente tinha lá quando veio, e o que a gente tem hoje? Agradecemos a Deus por ter persistido e ficado na região. ”

Os agricultores pioneiros foram responsáveis por levar desenvolvimento agrícola explorando o potencial produtivo das regiões dos cerrados. Quer conhecer mais iniciativas que aconteceram nas fronteiras agrícolas do Brasil? Recomendados a leitura da entrevista com o agrônomo e político brasileiro Alysson Paolinelli.

Deixe seu comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *