Dionísio Zanotto

Em uma entrevista que remete às origens do agronegócio no Oeste da Bahia, apresentamos a história de Dionísio Zanotto, um dos pioneiros que desbravou terras e moldou o cenário agrícola da região. Nascido em Passo Fundo (RS), em 1959, sua família decidiu estabelecer-se no pequeno município de Corbélia no Paraná para iniciar atividades agrícolas quando Dionísio tinha apenas 5 anos de idade.

Quando ficou mais velho, trabalhando na propriedade da família no Paraná, Dionísio conheceu sua esposa Ivone e se casaram em 1978. Com poucas terras e recursos, o jovem casal se aventura explorando diferentes regiões do Brasil, desde Brasília até Unaí em Minas e Cristalina, até encontrarem na Bahia uma oportunidade promissora. Eles ficaram sabendo da região por meio de um grupo de agrônomos de Corbélia.

Em 1980, Dionísio Zanotto adquiriu 24 mil hectares de terrenos no distrito de Novo Paraná em Luís Eduardo Magalhães, munícipio localizado no Oeste da Bahia. Ele inicia instalando o sistema de sequeiro para começar o cultivo da soja, arroz, milho e pecuária. A escolha destas culturas foi motivada pela falta de calcário na época, durante a abertura da área de cerrado. 

Inicialmente a soja era vendida para a indústria Coelho de Petrolina (PE), iniciando o transporte em Barreiras (BA) e, posteriormente, sendo levada para Petrolina em uma draga. Uma parte da soja plantada no primeiro ano foi vendida para a Ceval, que tinha um armazém em Luziânia-Brasília. O transporte era realizado por caminhão até Luziânia, onde, além de vender soja, o Senhor Dionísio adquiria calcário, proveniente de Brasilinha, em Brasília.

A obtenção de calcário era desafiadora devido à distância e à falta de acesso direto a Luís Eduardo Magalhães. Brasília era a principal via de acesso, mas enfrentavam dificuldades com o frete e a disponibilidade financeira na época. O Banco do Brasil, com o apoio fundamental do gerente Pedro Guedes, incentivava a elaboração de projetos pequenos, liberando financiamentos para a região por CPF, o que impulsionou a abertura de áreas, o plantio de arroz e a participação no Proagro. Essa iniciativa foi essencial para o desenvolvimento da região, gerando confiança bancária e resultando na posterior produção de soja, com a Ceval e, posteriormente, a Bunge, se envolvendo na região.

A vida no campo era desafiadora, com a necessidade de planejar meticulosamente os gastos e investir todos os recursos próprios. A criação de comunidades e a interação com agricultores locais foram fundamentais para superar o isolamento e a solidão. Dionísio acredita que é importante participar ativamente na comunidade, ajudando e sendo lembrado por seu envolvimento social. A criação da vila do Novo Paraná também faz parte de sua história, com Dionísio contribuindo para a formação do clube Aliança Novo Paraná em homenagem à sua origem paranaense. A história do Novo Paraná está entrelaçada com a migração de pessoas que deixaram a região de Itaipu após o fechamento da barragem, e muitos desses migrantes trouxeram conhecimentos e experiências que enriqueceram a comunidade local. 

Essas vivências compartilhando conhecimento entre agricultores levaram Dionísio a perceber que a produção de algodão poderia ser um negócio lucrativo. Diante disso, ele optou por iniciar o cultivo com a plantação de 100 hectares como um teste inicial. Os primeiros anos foram marcados por desafios, desde a falta de maquinário até problemas climáticos. 

Devido ao pioneirismo, ainda não se sabia muito sobre a comercialização e o beneficiamento do algodão, resultando na necessidade de realizar toda a capina manualmente. Dionísio também precisava dividir seu tempo com outras atividades, como a criação de gado, o que limitava seu envolvimento no crescimento da área de algodão. A estratégia de rotação de culturas, girando 500 hectares a cada 2 anos, manteve a área de algodão em torno de 2 mil hectares, otimizando a produção em uma propriedade total de 2.500 hectares de lavoura. Essa abordagem equilibrada contribuiu para superar desafios e garantir a sustentabilidade ao longo do tempo.

A decisão de cultivar algodão não foi apenas uma escolha agrícola, mas um compromisso com a evolução do agronegócio regional. A aquisição de maquinário e práticas inovadoras transforma Dionísio de agricultor a visionário, influenciando positivamente a trajetória agrícola na Bahia. A história de Dionísio transcende a lavoura e alcança o setor industrial com a criação de uma usina de beneficiamento de algodão. 

Pioneiro na indústria de algodão no Oeste da Bahia
Dionísio Zanotto e Ivone Zanotto na plantação de algodão – Reprodução: Epopeia do Agro

A ideia de criar a usina surgiu por causa dos custos elevados e baixa qualidade do algodão disponível. A falta de qualidade no beneficiamento, com muitos deixando o algodão ser prejudicado pela chuva, motivou a necessidade de uma indústria própria. A busca por qualidade, seriedade e eficiência motiva a empreitada de criação da usina, tornando-se um marco na produção de algodão na região.

Atualmente, a usina beneficia clientes fixos, como Freire, abrangendo 5.500 hectares. Com um contrato de mais 3 anos, a área beneficiada pode aumentar para 6.500 hectares. O compromisso com a seriedade, honestidade e qualidade preserva a reputação da usina. A entrega do caroço na usina é elogiada por sua pureza, com certificação na algodoeira e na fazenda, garantindo a qualidade e integridade do algodão. Dionísio destaca a confiança dos produtores e a preservação da excelência em todo o processo, desde a pluma até a entrega final.

Ao longo dos anos, Dionísio e sua equipe enfrentam desafios, desde a falta de acesso à exportação até o início da transgenia no algodão, especialmente na adaptação do herbicida e na obtenção de qualidade de fibra. O processo foi mais complexo do que na soja. Antigamente, o controle de lagartas era predominantemente realizado por capina manual. No entanto, a parceria com empresas no Nordeste, como Fortaleza, Vicunha e Dream Foods, e a adoção de variedades inovadoras impulsionam mudanças cruciais no manejo do solo e na limpeza das áreas. 

A trajetória de Dionísio é uma epopeia do agronegócio, uma história escrita nas terras férteis da Bahia. Seu legado não está apenas nas plantações de algodão, mas na transformação de desafios em oportunidades, moldando o presente e o futuro do agronegócio no Oeste da Bahia.

Dionísio Zanotto durante a entrevista com a equipe Epopeia do Agro – Reprodução: Epopeia do Agro

No final da entrevista, ele compartilhou sua visão sobre o futuro, incluindo a transição da gestão para as próximas gerações e os planos de expansão da propriedade. Dionísio enfatizou a importância do cuidado, da educação, e do uso responsável da tecnologia para o sucesso contínuo no agronegócio.

“Os jovens precisam se preparar, estudar e aproveitar a tecnologia disponível, mas com cautela, pois talvez não seja tão fácil assim. O agronegócio é uma área positiva, saudável e essencial na produção de alimentos, mas é necessário trabalhar com dedicação”

dionísio zanotto

Ficou inspirado com esta história? Venha ler a entrevista com Ivone Zanotto, esposa de Dionísio, representando o papel das mulheres no desenvolvimento do agronegócio.

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