Ildo João Rambo

Ildo João Rambo relembra a sua jornada desde os primeiros passos na região de Barreiras, Bahia, em 1986. Ao longo dessa entrevista, ele compartilha as experiências marcantes que moldaram sua trajetória como agricultor e empresário.

Ildo é um gaúcho nato, oriundo de uma família de produtores rurais no sul do Brasil. Sua jornada teve início quando ele decidiu deixar para trás sua terra natal para buscar oportunidades em Barreiras. Ele chegou a essa região em setembro de 1986, movido pela ânsia de crescimento e pela visão de seu irmão que já estava estabelecido na área há sete anos.

Seu primeiro passo foi trabalhar como contador, sua profissão de formação, mas sua paixão pela agricultura logo se manifestou. Ildo, nascido no campo, trouxe consigo uma herança agrícola que não podia ser ignorada. Ele relembra como seus pais eram produtores e como sua conexão com a terra o levou a adquirir sua primeira propriedade em 1988, inicialmente dedicada ao cultivo de arroz.

“Minha mãe possuía uma sabedoria notável, especialmente considerando que perdi meu pai cedo. Ela decidiu reunir seus oito filhos e dividir seus bens enquanto ainda estava viva. Minha parcela nesse patrimônio foi de aproximadamente 4,975 hectares, o que arredondei para cerca de 50 mil metros quadrados de terra. 

Utilizei essa terra para adquirir minha primeira propriedade aqui na Bahia, com 250 hectares, e também investi em equipamentos essenciais como trator, grade, plantadeira e carretinha, para dar início ao meu trabalho. 

Ildo João Rambo durante a entrevista – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

“Minha jornada começou com dedicação nos fins de semana, enquanto durante a semana eu estava focado em meu escritório. Muitas vezes, encontrei-me na fazenda sozinho, passando dias e noites no trator, trabalhando incansavelmente.”

Nos primeiros anos, Ildo enfrentou uma série de desafios. A região ainda estava em processo de desenvolvimento, com infraestrutura limitada, recursos escassos e tecnologias agrícolas incipientes. Havia pouca assistência técnica, e Ildo teve que contar com a experiência de outros produtores e sua própria resolução para superar obstáculos. 

Além disso, Ildo relembra com saudosismo as condições adversas que enfrentou na busca por sua visão de sucesso. A falta de comunicação eficiente, as estradas precárias e as condições climáticas imprevisíveis eram apenas algumas das dificuldades que ele enfrentou. Ele destaca sua capacidade de adaptação e perseverança, lembrando como se virava para resolver problemas de maneira criativa e improvisada.

Inicialmente, a região enfrentou dificuldades de crédito, levando muitos a começar com recursos limitados. A capacidade de preparar adequadamente o solo para receber as plantações foi fundamental, e a figura de Alysson Paolinelli desempenhou um papel crucial no desenvolvimento do cerrado para a produção de alimentos. Confira a entrevista realizada anteriormente pela equipe Epopeia do Agro. 

A melhoria tecnológica e o aumento de crédito foram surgindo conforme crescia o potencial agrícola da região. Pedro Guedes, gerente do Banco do Brasil em Barreiras, foi um incentivador pioneiro, contribuindo para a transformação da região oeste da Bahia. Políticas governamentais também ampliaram os limites de financiamento por CPF, estimulando os produtores a progredir.

A falta de tecnologia e máquinas eficientes foi outro desafio. Na ausência de recursos como GPS e máquinas avançadas, o trabalho era manual e baseado na experiência prática, desde pulverização até preparação do solo.

“Antigamente, a comunicação era um desafio. Era preciso ir pessoalmente buscar informações, não tinha telefones. Depender dos vizinhos para transmitir mensagens era a única opção. Lembro-me de improvisar um telefone nos anos 92-93, usando o código 63 do Tocantins. Fui um dos primeiros a ter telefone na fazenda, permitindo que a vizinhança se conectasse ao mundo exterior, apesar das dificuldades.”

O senhor Ildo João Rambo ressaltou como atualmente as inovações vem revolucionando cada aspecto do agronegócio, desde a preparação do solo até a escolha das melhores variedades de cultivo. Ele expressou sua confiança no potencial dos métodos biológicos e da agricultura homeopática, vendo neles uma alternativa sustentável à dependência excessiva de fertilizantes químicos.

Ildo destacou o papel crucial das pesquisas realizadas por instituições como a Embrapa e empresas do setor, como Monsanto e Basf, na criação de variedades de sementes mais produtivas. Ele enxergou um futuro promissor para a região, onde a produtividade da soja poderia superar limites genéticos, gerando benefícios econômicos para os produtores e contribuindo para a alimentação global.

Falando sobre a evolução da logística e do crédito no setor agrícola, Ildo mencionou que o avanço nesses aspectos é inevitável, uma vez que os investidores buscam oportunidades lucrativas. Ele acredita que haverá um aumento no assessoramento financeiro e na capitalização dos produtores, o que permitiria mais autonomia e crescimento no setor. Por isso é importante o investimento em infraestrutura, incluindo aeroportos bem estruturados, para possibilitar a expansão da produção de frutas e outros produtos agrícolas.

No passado, o escoamento da produção enfrentava desafios devido ao difícil acesso às fazendas e à falta de infraestrutura de transporte. Ao contrário da atualidade, não havia a rede de caminhões que existe hoje, com transportadoras de diferentes estados consolidando a região. Durante a colheita, muitas vezes o grão era colocado em lonas no chão para evitar perdas, mesmo que isso significasse exposição à chuva. 

Inicialmente, a comercialização era feita com empresas como a Ceval, liderada pelo gerente regional Idone Grolli, que desempenhou um papel significativo na região. Também havia a Olvebasa, proprietária da estrutura que hoje pertence à Cargill em Barreiras. Posteriormente, a Santista entrou na região, adquirindo parte da produção. Além disso, uma parte da produção era destinada aos pequenos produtores no Nordeste. A principal compradora era a Ceval, que posteriormente vendeu sua estrutura para a Bunge.

Falando sobre a vida no campo nas décadas passadas, Ildo relembrou as memórias de tempos difíceis, mas também de determinação e perseverança. Ele contrastou a simplicidade daquela época com a modernidade atual, enfatizando que a felicidade não está ligada ao tamanho das construções, mas à realização pessoal e à busca pelo conhecimento.

“a ida para a roça não era um passeio, era uma verdadeira aventura e com muita teimosia a gente conseguiu crescer com a primeira casinha de 48 metros, um barracão feito com cobertura de palha para guardar as máquinas, os insumos e assim eu fui crescendo”

Ildo compartilhou o aprendizado obtido com desafios e reviravoltas em sua trajetória, incluindo momentos difíceis como a crise financeira e a entrada da ferrugem asiática. Ele expressou sua gratidão pela capacidade de superar obstáculos e reconstruir seu caminho, enfatizando o valor do apoio de amigos e familiares.

Ildo Rambo e a esposa durante a entrevista com a equipe Epopeia – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

Ao falar sobre o legado que deseja deixar para as futuras gerações, Ildo enfatizou a importância de seguir os próprios sonhos e buscar a felicidade em conjunto com a família. Ele ressaltou que o conhecimento é a herança mais valiosa que se pode transmitir, incentivando seus filhos e a futura geração a buscar constantemente o aprendizado e a sabedoria.

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