Celito Breda

Celito Breda, formado em Engenharia Agronômica pela UPF de Passo Fundo – RS em 1988, é um renomado profissional com ampla experiência em Consultoria Agronômica e pesquisas agrícolas desde 1992. Ele é sócio proprietário da Círculo Verde Assessoria Agronômica & Pesquisa, além de ser membro ativo em organizações importantes do setor, como a CPM Agrícola, Abapa, GTMR e GBCA. Sua trajetória é marcada por contribuições significativas para o desenvolvimento agrícola, especialmente na Bahia e no Piauí.

Em uma entrevista exclusiva, Celito Breda compartilha as suas experiências sobre como a resiliência moldou sua trajetória e contribuiu para a formação da Fundação Bahia, uma instituição que desafiou as expectativas. A resiliência é um termo que permeia a jornada do agronegócio no Oeste da Bahia, sintetizando a persistência incansável, as batalhas travadas, o suor derramado, os momentos de desistência seguidos de retorno. 

A Fundação Bahia é um testemunho dessa resiliência, uma vez que superou três tentativas, onde as primeiras duas foram marcadas por desistências, mas a terceira refletiu a determinação de seguir adiante. Celito Breda afirma que as parcerias e colaborações têm sido fundamentais na construção do cenário agrícola atual. Enfrentando desafios climáticos, fitossanitários e logísticos, a pesquisa científica emergiu como uma ferramenta indispensável. A colaboração com a Embrapa e outras entidades possibilitou a adaptação das culturas às condições locais, gerando colheitas mais robustas e sustentáveis.

A história da região é uma narrativa repleta de nuances, onde nem todos os esforços resultaram em vitória. Muitos acreditam que todos que chegaram à região tiveram sucesso, mas a realidade é que a grande maioria enfrenta desafios. O agronegócio não é uma jornada fácil, e Celito destaca a importância de compartilhar essas histórias para passar o legado aos mais jovens. Compreender o passado é fundamental para construir um futuro, mesmo que as próximas gerações enfrentem desafios diferentes de hoje.

A trajetória de Celito Breda se entrelaça com o desenvolvimento do Oeste da Bahia. A primeira vez que ouviu falar da região como uma nova fronteira agrícola foi em 1984, durante uma aula sobre solo em Passo Fundo (RS).

Eu estava fazendo faculdade, só ouvia falar mal: ‘lá é pura areia, não chove direito, é afastado de tudo’ ou a ‘a logística é ruim, não tem porto, não tem nada’. A soja ia daqui para Brasília, o adubo vinha de Brasília para cá, imagina que não tinha nada. Então, realmente era difícil. Apesar da maioria desistir, vender as terras, teve alguns que foram resilientes e permaneceram por aqui. ”

Mesmo diante de dúvidas e desconfianças, ele vislumbrou a oportunidade e se aventurou em uma terra que desafiava as expectativas. A oportunidade surgiu quando estava estagiando em Marechal Rondon (PR) conhecendo novas práticas de cultivo, um dos fazendeiros o convidou para visitar a Bahia. Durante 3 anos ele trabalhou em fazendas da região, adquirindo experiência. Ele descobriu que poderia aplicar a técnica de plantio direto para transformar os solos do Cerrado em campos produtivos. Celito recebeu apoio dos agrônomos que já estavam instalados no Oeste da Bahia, como Antônio Guadagnin, anteriormente entrevistado pela equipe Epopeia do Agro.  

A busca por conhecimento e inovação o levou a colaborar com a Embrapa Cerrados e a Fundação Bahia. A pesquisa regional se tornou fundamental para enfrentar adversidades recorrentes e melhorar a resistência das culturas aos desafios locais. Em 1992, em parceria com Roque Freitas, fundou a Círculo Verde, primeira empresa de consultoria agronômica na região. A empresa introduziu um modelo inovador baseado na relação direta com o produtor e no foco na alta produtividade

A busca por adaptações às condições únicas do Oeste da Bahia, surgiram desafios na escolha das variedades de culturas. Quando Celito Breda chegou à região, a soja cristalina, desenvolvida por Francisco Terasawa (oriundo de Ponta Grossa/PR), se destacava, mas enfrentou um revés devastador em 1996 devido à sensibilidade ao cancro da haste, doença que atingiu as plantações de soja. Esse obstáculo impulsionou parcerias estratégicas com a Fundação Mato Grosso e a Embrapa, resultando no desenvolvimento de variedades de soja resistentes, restabelecendo colheitas abundantes.

A evolução genética das culturas no Oeste da Bahia foi notável. Desde a introdução da soja americana até a atualidade, um foco na pesquisa permitiu a adaptação de variedades com ciclos mais curtos e resistência a doenças específicas. A cristalina, por exemplo, desempenhou um papel pioneiro e, apesar dos desafios enfrentados, levou ao desenvolvimento de variedades mais eficazes.

A diversificação das culturas também foi fundamental. A Círculo Verde introduziu a colheita mecanizada do algodão, agregando novas oportunidades para a região que antes realizava apenas a colheita manual. Além disso, o café e o feijão de corda encontraram um nicho no mercado local, enriquecendo a variedade agrícola no Nordeste.

Celito Breda também explorou uma abordagem sustentável, implementando o plantio direto com palhada como uma tecnologia-chave. Esta prática não só melhora a saúde do solo, mas também se integra à pecuária, refletindo um modelo holístico de desenvolvimento agrícola.

Celito Breda durante a entrevista em sua fazenda – Reprodução: Epopeia do Agro

O espírito empreendedor de Celito se manifestou na fundação de três empresas: a Círculo Verde, pioneira na consultoria agronômica, a CPM Agrícola para o plantio e pesquisa no Piauí e a Círculo Verde Pesquisa, que se dedica à inovação. Ao abranger pesquisa, consultoria e produção, esse conjunto de empresas reflete o compromisso contínuo com a excelência e o desenvolvimento sustentável.

A abordagem teórica e prática foi um desafio significativo para Celito Breda ao iniciar sua jornada no Oeste da Bahia. A desconfiança e as advertências sobre a viabilidade da agricultura na região fizeram com que ele hesitasse inicialmente. Um relatório emitido em 1983 pelo Prodecer 1 e pela antiga Ipaba, respaldado pela Embrapa, afirmou que a cultura em escala comercial de soja, milho e algodão não seria viável devido às condições arenosas, baixa matéria orgânica no solo e chuvas irregulares, levantando preocupações sobre a desertificação.

No entanto, um grupo de agricultores, liderado por Antônio Guadagnin, decidiu enfrentar esse desafio e convencer o Banco do Brasil a continuar financiando a região. Isso levou a um compromisso em provar a viabilidade da agricultura no Oeste da Bahia, mesmo diante das adversidades. A determinação desse grupo desmentiu as previsões iniciais. A região alcançou as melhores médias de produtividade de soja no Brasil e a melhor média mundial de algodão de sequeiro, destacando-se não apenas em quantidade, mas também em qualidade.

No que diz respeito à qualidade, a luminosidade na região impulsionou o teor de proteína na soja, tornando-a superior a outras regiões do cerrado, bem como a Estados Unidos e Argentina. No caso do algodão, os solos arenosos e a ausência de chuvas durante a colheita contribuíram para aumentar a qualidade da fibra. A resiliência e a capacidade de contornar obstáculos, como a falta de perfil de solo e o manejo de palhada, foram fundamentais para o sucesso alcançado.

Ao longo dos anos, Celito Breda e outros pioneiros adaptaram técnicas de regiões semelhantes, como o Mato Grosso, ao contexto específico do Oeste da Bahia. Essa troca de conhecimento entre diferentes regiões fortaleceu a base de conhecimento local e permitiu a criação de métodos e práticas adaptadas às condições únicas da região. Hoje, o Oeste da Bahia é reconhecido como um exemplo de resiliência, inovação e superação de desafios na agricultura.

O entrevistado relembra como nos anos 1980 e 1990, a obtenção de insumos para desenvolver as culturas foi um desafio significativo. Na época, a dependência de fertilizantes e defensivos importados era menor do que atualmente, visto que o agronegócio brasileiro cresceu consideravelmente desde então. Fertilizantes vinham de longe, principalmente do Sul e Sudeste do Brasil, resultando em altos custos logísticos e qualidade inadequada para a região do Oeste da Bahia. Isso mudou ao longo do tempo, com a evolução das máquinas agrícolas mais adaptadas ao cerrado e a criação de fertilizantes específicos para a região, reduzindo a dependência das importações.

Apesar dos avanços, o Brasil ainda enfrenta desafios na produção de insumos agrícolas, como fertilizantes, defensivos e sementes, muitos dos quais são importados. A falta de investimento em indústrias locais de fertilizantes resultou em dependência externa, afetando a autonomia do país no setor. No entanto, a produção de combustíveis, como óleo diesel, é uma exceção, uma vez que o Brasil é autossuficiente nessa área.

A região do Oeste da Bahia, onde Celito Breda atuou, passou por uma revolução agrícola enfrentando essas dificuldades. Inovações e investimentos ao longo dos anos permitiram a adaptação das práticas de cultivo e a criação de insumos mais adequados à região, resultando em melhores produtividades e qualidade das colheitas. A busca por maior autonomia na produção de insumos ainda é um objetivo, especialmente em relação a fertilizantes, defensivos e sementes. O avanço nesse sentido exigiria investimentos significativos e a incorporação de novas tecnologias, mas o potencial para expansão da agricultura na região, tanto em área de plantio quanto em produtividade, é promissor, desde que seja feito de maneira sustentável e responsável, considerando a disponibilidade de água e energia.

Os programas Prodecer 1 e Prodecer 2 tiveram um papel fundamental no avanço da região do Oeste da Bahia e na expansão da produção de algodão. O Prodecer incentivou produtores do Sul a migrarem para a região do cerrado, financiando a compra de áreas, máquinas e infraestrutura, impulsionando o desenvolvimento agrícola. A parceria entre a Embrapa Cerrados e as cooperativas locais, como a Cooproeste, foi crucial para esse avanço, promovendo investimentos significativos e treinamento de mão de obra.

No início, a mão de obra foi importada do Sul do país, mas logo as associações e sindicatos locais promoveram a capacitação da mão de obra regional. Treinamentos coordenados por entidades como Aiba (Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia), Abapa (Associação Baiana dos Produtores de Algodão), sindicatos e a Fundação Bahia permitiram que os trabalhadores locais adquirissem habilidades necessárias para operar as máquinas agrícolas de maneira eficiente. A região investiu fortemente em capacitação, resultando em um grande número de operadores de máquinas, técnicos e agrônomos locais altamente qualificados.

Esse investimento em capacitação foi um dos pilares do sucesso agrícola da região, permitindo uma gestão eficaz das operações dentro e fora das fazendas. A colaboração entre as entidades locais e as empresas do setor contribuiu para o desenvolvimento sustentável do Oeste da Bahia. As fundações, como Abapa e Aiba, coordenam esforços para impulsionar pesquisa, capacitação e políticas institucionais, fundamentais para superar desafios e promover o crescimento agrícola. A colaboração com o setor privado é essencial para organizar recursos, incentivar investimentos e influenciar políticas governamentais. Além disso, essas fundações desempenham um papel decisivo na resolução de questões como doenças de plantas, pragas e no desenvolvimento de variedades adaptadas, bem como na qualificação da mão de obra local. 

Apesar desses avanços na infraestrutura, Celito comenta que ainda persistem alguns desafios como a dependência de insumos importados, logística e a burocracia envolvida nas negociações. O desenvolvimento de soluções para esses problemas é fundamental para garantir o crescimento sustentável da região e aproveitar ao máximo seu potencial agrícola.

Celito Breda reflete sobre seu envolvimento no desenvolvimento da região e a importância da resiliência diante dos desafios enfrentados ao longo do tempo. Ele compartilha sua paixão pela região e suas perspectivas de crescimento:

“Em 15 anos, acredito que o PIB de 30-40 bilhões aumentará para mais de 100 bilhões. A região, que hoje gera 50 mil empregos, tem potencial para expandir para até 500 mil empregos, incluindo na agroindústria e na pecuária.” 

Celito Breda durante a entrevista em sua fazenda – Reprodução: Epopeia do Agro

Ele também enfatiza a importância da inovação e da industrialização para o crescimento, citando a tentativa de trazer a agroindústria para a região. Ele encoraja a próxima geração a ser resiliente, como os imigrantes do passado, e ressalta a colaboração como essencial para o sucesso. Conclui compartilhando exemplos de outros líderes regionais e seu otimismo no potencial de crescimento da região.

Celito Breda aconselha a próxima geração a equilibrar o conhecimento tradicional da agricultura com as inovações tecnológicas, mantendo um compromisso com a coletividade. Ele destaca a importância de contribuir para instituições cooperativas e trabalhar para o bem comum, além de ressaltar a necessidade de combinar o conhecimento prático da agricultura com habilidades tecnológicas. Ele enfatiza que o sucesso regional depende tanto do progresso agronômico quanto da participação institucional e pesquisa. 

Durante a entrevista, Celito também comenta sobre adaptação de cultura entre os moradores locais e os imigrantes. Foi necessário cortar o cordão umbilical com as práticas anteriores e buscar novos recursos e conhecimentos, especialmente em áreas como agricultura 4.0. Ele relata sua própria jornada de aprendizado ao adaptar práticas agrícolas do Sul ao contexto do Oeste da Bahia e destaca a importância contínua da presença humana na agricultura. O entrevistado compartilha uma experiência pessoal em busca de conhecimento sobre cultivo de algodão e a superação de desafios para beneficiar a produção de algodão na região.

Hoje, o legado de Celito Breda ecoa na região do Oeste da Bahia. Sua jornada de resiliência, parceria e inovação não apenas inspirou o desenvolvimento agrícola, mas também influenciou a formação de uma comunidade pronta para enfrentar os desafios do futuro.

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