Hélio e Olívia Busato
Dona Olivia e o senhor Hélio falam sobre sua experiência ao chegar no Oeste da Bahia. Eles fazem parte daqueles pioneiros que desbravaram a região há algumas décadas, quando as coisas eram bem diferentes do que são hoje.
Hélio Busato, nascido em Casca, Rio Grande do Sul, decidiu se aventurar na Bahia aos 50 anos. Ele conheceu a tecnologia de pivôs de irrigação por meio de jornais e televisão e ficou empolgado com as possibilidades. Sua esposa sempre dizia que era importante garantir um futuro melhor para seus filhos. Na época, enquanto ainda morava em Casca, Hélio percebeu que se dividisse suas terras cada filho ficaria com apenas 20 hectares, o que não seria suficiente para sustentá-los no futuro.
Seu filho, que estudava em Passo Fundo, sempre mencionava que as terras na Bahia eram baratas e o convidava para conhecê-las. Hélio acabou aceitando um convite de um conhecido e decidiu ir para a Bahia. Na época, ele disse para Dona Olivia:
“Eu estou decidido, você apronta a mala para dois ou para um, mas você conhece pouco é bom ir junto”. E aí viemos! Quando chegamos aí antes de Posse, em Goiás, ela se virou para mim e disse “aqui não dá nem para criar cabritos” (Hélio Busato)
Ao ver as vastas planícies e a tecnologia dos pivôs de irrigação, Hélio ficou convencido de que valia a pena se esforçar pelo futuro promissor que a região oferecia. O casal chegou à Bahia em 1986 e começou a trabalhar na região em 1988. Hélio vendeu um caminhão em Casca e comprou mil hectares de terra no povoado de Novo Paraná em Luís Eduardo Magalhães (BA), com o passar dos anos essas propriedades foram se valorizando. Com o apoio de sua esposa, que sempre esteve ao seu lado, inclusive cozinhando para os funcionários, eles conseguiram construir um patrimônio sólido.
Antes de vir para a Bahia, Hélio tinha um pequeno comércio no Rio Grande do Sul, onde trabalhava com suínos e aves. Ao chegar ao Oeste da Bahia, ele recebeu apoio de pessoas como Valter Gatto e Armindo Brunheira, que eram da região. Seus filhos também se juntaram a eles, assumindo diferentes funções nas plantações e nas finanças da fazenda.
O maior desafio enfrentado por Hélio ao chegar na região foi a diferença entre as pequenas propriedades de 70 a 80 hectares no Sul, comparadas à área de mil hectares que encontrou na Bahia. No entanto, sua determinação em trabalhar e produzir foi o que os manteve firmes, visualizando um futuro promissor garantido.
Dona Olívia, esposa de Hélio, também compartilhou sua perspectiva sobre a época em que chegaram ao Oeste da Bahia. Ela destacou que, embora tenha sido arriscado, uma vez que estavam lá, não tinham mais para onde correr. Ela decidiu firmar o pé na região e fazer o que fosse possível para seguir em frente. Voltar atrás não era uma opção.
Dona Olívia embarcou no desafio de desbravar terras desconhecidas, encarando, inclusive, até os morcegos dentro de casa, relembra com certo humor. Comparando a vida naquela época com a atual, ela ressalta que houve grandes mudanças e melhorias na região ao longo dos anos. Hoje, é mais fácil para quem chega, com acesso à energia e a uma série de recursos que antes eram escassos.
“Eu cheguei um dia de ônibus, vim de ônibus de Passo Fundo fui para São Paulo e vim com um ônibus de pau de arara que estava colhendo cana em São Paulo” (Olivia Busato)
Quando chegaram, eles não foram morar na fazenda imediatamente, mas chegaram à cidade de Barreiras e depois seguiram de carona até a fazenda. A realidade encontrada não correspondia totalmente às expectativas, mas Dona Olívia estava disposta a enfrentar os desafios novamente. A vontade de construir algo melhor foi o que os impulsionou, já que eles tiveram que começar do zero e fazer tudo acontecer por conta própria.
O senhor Hélio compartilhou sua experiência sobre as escolhas ao chegar ao Oeste da Bahia. Ele mencionou que a vinda foi tranquila, pois arrendaram uma fazenda do senhor Camargo, que lhes deu muito apoio, inclusive vendendo máquinas para eles. Iniciaram o trabalho, e seu filho Júlio, formado em agronomia, foi responsável pelo plantio. Foi um momento de alegria, pois saíram de uma área de 80 hectares e foram para 1.000 hectares, o que representava um grande avanço. Apesar das limitações tecnológicas da época, eles conseguiram vislumbrar o potencial da região.
A primeira cultura que eles plantaram no Oeste da Bahia foi soja e aproximadamente 20 hectares de milho. O senhor Hélio lembra que a produtividade do milho foi baixa, em torno de 20 sacos, enquanto a soja atingiu cerca de 28 a 30 sacos. Hoje, a produtividade média da soja na região é de aproximadamente 70 sacos por hectare.
Inicialmente a família comprou uma área no Novo Paraná, mas optaram por trabalhar na fazenda arrendada. Posteriormente, conseguiram comprar a fazenda Busato 1 e, com o tempo, expandiram para a Busato 2, que possuía uma estrutura maior. O crescimento das operações resultou em grandes créditos nos bancos, enquanto a região passava por mudanças significativas.
Naquela época, a logística era um desafio, pois não havia estradas asfaltadas e a comunicação era limitada. Quando ocorriam problemas com máquinas, eles dependiam de Goiânia para obter peças e realizar manutenções. A viagem até Goiânia levava cerca de 3 a 4 dias de caminhonete, e quando se tratava de motores e outras peças maiores, podia levar até duas ou três semanas.
Dentro das propriedades rurais existiam espaços para armazenar os materiais descartados, os chamados “ferro velho”, tudo era aproveitado e reaproveitado, pois não havia fácil acesso a peças de reposição. Hélio menciona que essa prática mudou porque existe agora uma conscientização maior sobre o descarte adequado e o aproveitamento dos materiais.
Dona Olívia chegou à fazenda e, com muito esforço, ajudou na cantina e realizou várias tarefas, agradecendo a Deus pela força que teve. Enfrentaram o desafio de trazer mão de obra de fora, treinando as pessoas para operar as máquinas. A fazenda tinha três mil hectares abertos, e a área da Busato foi aberta pela família.
“A gente inicialmente trouxe o pessoal do Sul, mas o pessoal do Sul não se adaptou aqui porque tinha que ficar na fazenda isolado e a sociedade gaúcha ela tem suas festas, tem suas diversões é outro padrão de vida. E aí o Júlio foi instruindo o pessoal, mas ele se sentia muito bem, porque o pessoal daqui era muito atencioso” (Hélio Busato)
Iniciaram com a cultura da soja e, ao longo do tempo, passaram para o algodão e o feijão. Hoje, a fazenda conta com mais de mil funcionários e 17 pivôs, com todas as áreas de plantio irrigadas. A família orgulha-se da terceira geração, que recebeu educação e oportunidades de vida.
“Tenho que dizer que eu hoje sou um homem casado feliz tanto eu como ela, temos filhos que não nos deixam faltar nada. Tenho as noras, meus netos e netas. E tenho orgulho porque a terceira geração já tem três agrônomos e uma advogada, então eles estão recebendo uma condição de vida que é invejável. Eu tenho um neto que inclusive é piloto de avião, nós na época não tínhamos nenhuma condição” (Hélio Busato)
Essa é apenas uma pequena parte da história de Hélio e Olivia, assim como de muitos outros pioneiros que ajudaram a construir o Oeste da Bahia. A trajetória inspiradora destaca a importância da coragem, família unida e a perseverança no agronegócio, que transformou a região em uma próspera área agrícola. É uma lição valiosa para a juventude do futuro, mostrando que o sucesso pode ser alcançado com dedicação ao trabalho e respeito aos outros. A fazenda é um exemplo vivo do que é possível realizar quando se tem determinação e uma visão de longo prazo.
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