Idôneo Luiz Grolli

Idone Luiz Grolli

Diretor de Integração Regional da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (ABRASS) e Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Sementes e Mudas (ABRASEM), entidade que cuida da legislação sementeira.

Idone Luiz Grolli, aos 68 anos de idade, com seu jeito pioneiro e ousadia de menino, conta sobre a sua vivência no Oeste da Bahia:

Eu só tinha coragem, mas o dinheiro não era meu. Entre o aventureiro e o empreendedor; o empreendedor é o cara que faz a ousadia e dá certo; o aventureiro é aquele que faz e dá errado, né?! “Aquilo é um aventureiro!”. No caso, eu acabei me transformando num empreendedor

A sua história de pioneirismo começa no início da década de 1980, quando entrou na CEVAL (mais tarde comprada pela empresa multinacional BUNGE). Na época pertencia ao grupo Hering, empresa pioneira na região oeste de Santa Catarina. Idôneo entrou como controlador, e depois passou a operar nos sistemas de transmissão de dados via computador. Depois atuou na área comercial da empresa, momento em que descobriu sua aptidão para combinar conhecimentos técnicos, recursos humanos e questões fiscais.

Entre 1983 e 1986, fez faculdade de administração de empresas em Foz do Iguaçu (PR). Antes de concluir o curso, foi chamado para ser Gerente Comercial em Pelotas( (RS). Em 1987, a empresa comprou duas unidades em Barreiras (BA), foi quando recebeu o convite para se mudar para lá.

“Se eu não queria vir pro Nordeste? Aquele preconceito todo, né, que Nordeste só tem caminhão pipa, só tem seca, como é que você vai pra lá? Inclusive assim, meus amigos mais chegados, me aconselharam que eu nunca não deveria fazer isso. Eu era uma pessoa com 32, 33 anos, com mulher e três filhos”

Apesar dos obstáculos, aceitou o desafio e se mudou com a sua família para a região. No início, a empresa comprava soja para enviar para Santa Catarina. A rota Norte-Sul foi um importante eixo de transações comerciais, enquanto a produção de alimentos se concentrava na região Sul, a região Norte e Nordeste eram consumidores. Com o passar do tempo a população aumentou e hoje o nordeste também é um grande exportador:

“É diferente do Centro-Oeste; é um grande produtor de alimentos e tem pouco consumo, porque tem pouca população.  Hoje, eu diria que o mais importante seria Leste-Oeste”

Idone ficou à frente das operações até 1988, na primeira safra após o período da seca que elevou os preços da soja no Brasil e nos Estados Unidos. Ele acompanhou o período de crescimento da soja no Oeste Baiano, quando a CEVAL foi a primeira empresa de grande porte a estabelecer relações com a Bolsa de Chicago. As empresas regionais ainda não exportavam para fora do Brasil e não participavam do mercado internacional.

Com o rápido crescimento, a empresa ganhou credibilidade suficiente para começar uma indústria pioneira de óleo de soja. Contou com o apoio do político Nilo Coelho, governador da Bahia filiado ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Esse apoio contribuiu para expandir a potência da rede elétrica no Oeste Baiano, recurso necessário para alavancar a indústria de óleo de soja.

Antes dessa conquista, Idone relata que precisava emprestar geradores para abastecer a energia da comunidade.

Posto de combustível no povoado de Mimoso do Oeste (BA) – Foto: ABAPA Acervo da família Ferreira

“Para poder atender uma energia no início da noite, pra todo mundo ao menos chegar em casa e ver uma luz, e um poço de água; um poço artesiano que colocava água nas casas; e energia, nos botecos, que ao menos funcionasse. Então, eu tinha emprestado alguns geradores. Era isso que era em 1988, Mimoso do Oeste-BA; tinha lá a CEVAL que tinha comprado um negócio, o Posto do Mimoso, e a Cooperativa de Cotia. Só esses três que tinha ali, o resto eram moradores. Uma pequena vila, num entroncamento rodoviário”

Ivo Hering, líder do grupo Hering (controlador da CEVAL) e mais três diretores visitaram Barreiras (BA) para conhecer a infraestrutura da região e avaliar a oportunidade de expandir os negócios. Idôneo foi quem propôs instalar uma fábrica em Mimoso do Oeste, região ainda inexplorada no plantio de soja:

O Diretor Geral disse, pegou um guardanapo (aquelas histórias que se escreve músicas, que não sei o quê, em papel, em guardanapo, essa foi uma história verdadeira); fez um X, tipo uma cruz, colocou pontos positivos e negativos, e começou a escrever isso. Ele tinha experiência de ter desbravado o Mato Grosso-MT, já, com a CEVAL, então, ele já sabia o que era uma “fronteira agrícola”, ele entendia bem esse jogo, já tinha essa informação de que o pioneiro poderia ter uma vantagem competitiva. E aí, ele começou falar, e o senhor Ivo Hering dizia “oh, é muito pioneirismo, esse negócio, é muito pioneirismo!”O Diretor Geral disse, pegou um guardanapo (aquelas histórias que se escreve músicas, que não sei o quê, em papel, em guardanapo, essa foi uma história verdadeira); fez um X, tipo uma cruz, colocou pontos positivos e negativos, e começou a escrever isso. Ele tinha experiência de ter desbravado o Mato Grosso-MT, já, com a CEVAL, então, ele já sabia o que era uma “fronteira agrícola”, ele entendia bem esse jogo, já tinha essa informação de que o pioneiro poderia ter uma vantagem competitiva. E aí, ele começou falar, e o senhor Ivo Hering dizia “oh, é muito pioneirismo, esse negócio, é muito pioneirismo!”

Além do desafio de garantir uma infraestrutura para construção da fábrica, ainda precisava resolver a falta de funcionários qualificados. A maioria dos funcionários contratados chegou sem experiência fabril, residiam no município mais próximo em Barreiras (BA). Depois, a empresa foi trazendo pessoas do Sul até formar uma vila com 50 casas. Idone Grolli administrou todo o empreendimento da empresa na região. A CEVAL foi responsável por explorar oportunidades de negócios nas regiões remotas das fronteiras agrícolas, onde não havia estradas, energia elétrica, casas, escolas. Esse pioneirismo transformou a CEVAL em uma das maiores empresas brasileiras.

No começo, todas as operações da fábrica fecharam com saldo positivo até a crise de inflação com a eleição do Presidente Collor. O congelamento da poupança impactou diretamente a indústria nacional, houve a redução das áreas de plantio no Oeste Baiano. Esse retrocesso só foi recuperado entre 1991 e 1992, após uma supersafra: “se antes produzia 30 sacos por hectare; naquele ano, foi para 45, 50 sacos por hectare; a produtividade foi lá em cima”.

O governador Nilo Coelho aprovou a instalação de uma subestação de 25.000 KVA no cerrado, levando energia para irrigação das áreas de plantio. As distribuições das linhas de transmissão elétricas foram decididas por meio de reuniões com uma série de agentes e entidades envolvidas. Entre eles, Idôneo Grolli, Superintendente da Fábrica em Mimoso; a recém fundada Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia – AIBA, presidida por Humberto Santa Cruz; e Jusmari Oliveira, então Deputada Estadual na Bahia, atualmente filiada ao Partido Social Democrático (PSD).  

A Vila Mimoso começou a crescer, despertando interesse para novos empreendimentos. A fábrica semipronta, com estoque cheio nos armazéns, enquanto os seus concorrentes enfrentavam a crise do congelamento da poupança e das altas taxas de inflação. A indústria na região estava prestes a ficar desabastecida de farelo de soja, correndo o risco de precisar comprar de Goiás ou do Triângulo Mineiro. Foi quando Idôneo Grolli recebeu investimento para acelerar a conclusão das obras da fábrica. Em 1992 começou a operar em pleno funcionamento. No ano seguinte, quando as empresas concorrentes se recuperaram, a CEVAL já havia conquistado os clientes da região.

Em 1993, já havia a distribuição da energia elétrica e a indústria de óleo de soja se consolidava no Oeste da Bahia. Foi quando iniciou um movimento para emancipação política do povoado de Mimoso, vinculado ao município de Barreiras (BA). Entretanto, esse movimento foi barrado pela forte crise econômica enfrentada pelas entidades públicas e privadas. A COOPERGEL grande cooperativa ligada à migração japonesa, quebrou suas operações. Esse fator, somado ao período da seca, levou ao endividamento dos agricultores, superando o valor das suas próprias terras.

Idone Grolli resolveu agir e, como Diretor da CEVAL, conseguiu um empréstimo de 200 milhões de dólares dos bancos públicos. O fomento das fronteiras agrícolas era considerado uma política econômica do país e por isso conseguiu uma aprovação de imediato.

Sua ideia inovadora foi garantir o adiantamento do pagamento aos agricultores, antes da colheita da soja, dando a chance de eles se recuperarem. A aprovação dos empréstimos dependia da opinião dos avalistas, foi quando entraram na jogada os empresários Antônio Guadagnin e Valter Gatto. Na época, Antônio abriu um escritório de planejamento agrônomo para assessorar as famílias migrantes na preparação das terras para plantio.

“Eu vou vender a soja pra ti, porque eu tenho a minha fazenda próxima do armazém de vocês; não tem por que não vender soja pra vocês, o que é que eu vou fazer? Eu já vou fazer um contrato prévio, de uma quantidade X, que eu sei que vou produzir, e vou ter um crédito aprovado, com essa inflação, se eu não quiser o dinheiro, eu não pego, o dinheiro lá”. Virou um produto no mercado, espetacular! Ganhamos o mercado com aquilo lá, né?! E acabou virando popular dentro do Brasil inteiro!”

No Oeste da Bahia foram os empresários locais que contribuíram no desenvolvimento, desde muito cedo construíram seu patrimônio em meio às terras desconhecidas, fazendo dessa região seu novo lar. A interlocução com o Governo Federal foi decisiva para garantir a infraestrutura e a segurança jurídica necessários para o fomento da agricultura.

José Claudio de Oliveira, foi um dos pioneiros citados nesta entrevista. As técnicas inovadoras de cultivo do algodão, transformaram o cerrado baiano em um dos lugares mais produtivos do Brasil. Venha ler os detalhes desta entrevista.  

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