Humberto Oliveira

Em uma entrevista realizada durante a Bahia Farm Show 2002, Humberto Miranda Oliveira compartilhou insights valiosos sobre o papel fundamental do sindicato na agricultura e no desenvolvimento regional. A iniciativa Epopeia do Agro busca narrar a história dos pioneiros que moldaram a região através da agricultura, Humberto Oliveira é presidente do Sistema Faeb/Senar que trabalha para fortalecer o setor agropecuário baiano, defendendo os interesses e direitos dos produtores rurais, além de capacitar e profissionalizar a mão de obra rural.

A entrevista inicia perguntando sobre as circunstâncias sociais e históricas que levaram à criação do sindicato. Humberto fala sobre os desafios enfrentados pelos primeiros agricultores que se estabeleceram no Oeste da Bahia. Em uma época marcada pela escassez de recursos básicos e pela falta de infraestrutura, esses visionários enfrentaram uma jornada árdua para transformar uma terra árida em um centro de inovação e produtividade.

O sindicato atuou como um agente organizador e facilitador de mudanças na comunidade agrícola. Desde a falta de infraestrutura básica até a necessidade de acesso à educação e saúde, o sindicato desempenhou um papel crucial na abordagem coletiva dos desafios enfrentados pelos agricultores locais.

“As organizações sociais são fundamentais para que a sociedade possa participar e contribuir para construir seu próprio destino, inclusive no setor rural. Os desbravadores tinham essa visão de transformar a região em um centro de desenvolvimento e melhoria de vida.”

À medida que a conversa avançava, David Schmidt, entrevistador, expressou sua curiosidade sobre a evolução da relação entre a região e a Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB). Humberto compartilhou insights sobre como as organizações sociais, como os sindicatos, procuraram a FAEB em busca de apoio e representação. Ele destacou o papel da federação como uma âncora em Salvador, defendendo os interesses e necessidades da região Oeste diante das autoridades estaduais e políticas.

David Schmidt entrevista Humberto Oliveira no Bahia Farm Show em 2022 – Reprodução: Epopeia do Agro

Na conversa, Humberto revela a motivação por trás do projeto de reconstruir a história do surgimento do Oeste da Bahia. Ele enfatiza a necessidade de esclarecer às pessoas, especialmente aos mais jovens e aos recém-chegados à região, sobre as origens e as dificuldades enfrentadas pelos pioneiros. Contrapondo a ideia de que quem migra para o Oeste é rico, ele destaca a realidade de que a maioria chega com poucos recursos, buscando oportunidades em uma terra ainda em desenvolvimento. Esse esforço, segundo ele, é parte de um projeto maior para educar as pessoas sobre a verdadeira história da região.

Quanto à relação com as instituições, Humberto compartilha insights sobre a importância das organizações sociais e da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB) na consolidação e no reconhecimento do Oeste. Ele relata que, inicialmente, foi necessário que as organizações locais buscassem a atenção e o apoio da FAEB para que o Oeste fosse reconhecido como uma importante região produtora. A federação desempenhou um papel crucial na defesa e representação do setor agropecuário da região, tanto perante as autoridades estaduais quanto em nível nacional.

A história da FAEB na região é descrita como uma evolução, desde sua descoberta pelas organizações locais até sua consolidação como uma parceira vital para o desenvolvimento do Oeste. Em seus primórdios, a federação se concentrava mais em oferecer suporte e representação do que em oferecer treinamento ou capacitação. Ela serviu como uma “âncora” em Salvador, permitindo que os pleitos e necessidades da região fossem levados aos políticos e às esferas de decisão.

Essa abordagem colaborativa entre os sindicatos, as organizações sociais e a FAEB foi essencial para superar os desafios enfrentados pela região, desde a infraestrutura precária até as dificuldades socioeconômicas. Mesmo hoje, as associações e sindicatos continuam desempenhando um papel vital na representação e defesa dos interesses locais, demonstrando a importância contínua da cooperação institucional para o progresso e o desenvolvimento sustentável do Oeste da Bahia.

Humberto menciona algumas famílias pioneiras na região, como os Hopes e os Köllns, destacando suas ações na busca por reconhecimento e desenvolvimento do Oeste da Bahia. Essas famílias e outras pessoas visionárias foram determinantes para iniciar o processo de organização e representação da região junto à FAEB.

Ele ressalta o desafio enfrentado por esses desbravadores, que enxergaram o potencial da terra e se aventuraram em um território ainda pouco explorado. Muitos deles chegaram ao Oeste devido a dificuldades em suas regiões de origem, como desapropriações em Itaipu, no Paraná, ou a necessidade de dividir terras familiares em outras localidades. A imigração para o Oeste foi motivada pela esperança de uma vida melhor e pela visão do potencial agrícola da região.

Humberto compartilha sua própria trajetória, desde seu envolvimento precoce em organizações sociais até sua entrada na vida pública, passando por cargos como presidente de sindicato, vice-prefeito e prefeito. Ele destaca a importância de limites na política e acredita que a rotatividade de liderança é essencial para evitar uma concentração prolongada de poder. Sua experiência na Adab (Agência de Defesa Agropecuária da Bahia) e seu envolvimento com projetos no semiárido o prepararam para o papel que desempenhou na FAEB a partir de 2009, quando se juntou ao esforço de desenvolvimento da região.

Quando Humberto teve seu primeiro contato com o sindicato em Miguel Calmon, em 1985, o Oeste da Bahia ainda era uma região praticamente desconhecida para ele e muitos outros. Naquela época, as referências de desenvolvimento agrícola estavam mais próximas, como a região de Irecê, conhecida por ser um importante polo na produção de feijão e pelo alto número de tratores per capita. Outra referência próxima era a região de Juazeiro e Petrolina, com sua agricultura irrigada.

Porém, à medida que o Oeste começou a ser desbravado e construído, Humberto começou a ouvir falar mais sobre a região. Muitas famílias da região central, como Irecê, Jacobina e Miguel Calmon, migraram para o Oeste em busca de oportunidades de trabalho, principalmente em atividades agrícolas. Esse movimento de migração de mão de obra menos qualificada ajudou a impulsionar o desenvolvimento da região.

Quando Humberto teve seu primeiro contato com a federação em 2009, o Oeste da Bahia já tinha se tornado uma referência econômica e agrícola no estado. A região tinha um peso significativo na economia, com destaque para eventos como a Bahia Farm Show. A contribuição sindical compulsória, que era uma importante fonte de receita para o sistema, era especialmente alta no Oeste, com arrecadações consideráveis em cidades como Luís Eduardo Magalhães e Barreiras. Assim, o Oeste da Bahia havia se transformado em um dos principais exemplos de desenvolvimento e contribuição para o sistema agrícola do estado.

Humberto assumiu a presidência da Federação da Agricultura e Pecuária da Bahia (FAEB) por volta de 2017, quando o então presidente, João Martins, passou a se dedicar mais às demandas da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Inicialmente, Humberto era vice-presidente da federação e gradualmente começou a assumir mais responsabilidades na gestão, à medida que João Martins delegava algumas atribuições diretas.

A história da FAEB possui mais de 50 anos de existência e teve origem em um momento em que o cacau era a principal fonte de receita do estado da Bahia. Inicialmente, a federação atendia principalmente às demandas da pecuária e das regiões cacaueira e semiárida do estado. Com o tempo, a influência da federação se estendeu para outras regiões, como o extremo Sul e o Oeste, à medida que essas áreas se desenvolviam economicamente.

A região do extremo Sul, por exemplo, antes conhecida principalmente pela exploração da madeira, tornou-se um pólo agrícola diversificado, com culturas como açaí, pimenta do reino e frutas diversas. Assim como o Oeste, o extremo Sul passou a demandar cada vez mais a atenção e os serviços da federação.

Hoje, o surgimento de novos pólos de desenvolvimento agrícola na Bahia, como a região de Irecê-Barra, onde grandes projetos de irrigação e o crescimento da fruticultura prometem impulsionar a economia local, de forma semelhante ao que aconteceu no Oeste em décadas passadas. Essa expansão territorial das demandas agrícolas reflete o contínuo crescimento e desenvolvimento do setor no estado.

Da esquerda para direita: Gledson Rocha, Humberto Oliveira, David Schmidt e Cristine Carneiro – Reprodução: Epopeia do Agro

Humberto expressou sua admiração pela região Oeste da Bahia e destacou a importância de conhecer a história para valorizar o presente e construir o futuro. Ele reconheceu o papel dos desbravadores e o espírito de superação presentes na região, enfatizando a constante busca pela melhoria e inovação.

Além disso, Humberto compartilhou sua filosofia pessoal de buscar ser melhor a cada dia e elogiou a atmosfera de progresso e cooperação que permeia a região Oeste. Ele ressaltou a importância desse sentimento de renovação e crescimento para manter a relevância e o vigor da região.

Por fim, Humberto parabenizou as famílias que contribuíram para o desenvolvimento da região e agradeceu a oportunidade de participar da discussão sobre a história e o potencial do agronegócio no Oeste da Bahia.

Essa narrativa envolvente oferece uma visão holística sobre a importância das instituições sociais na construção e no progresso de comunidades rurais, destacando a colaboração e o apoio mútuo como pilares fundamentais do desenvolvimento regional. Continue acompanhando nossa série de entrevistas para mais histórias inspiradoras sobre a jornada da agricultura e do agronegócio no Brasil. #EpopeiadoAgro #DesenvolvimentoRegional #AgriculturaSustentável 🌾🚜

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