Nilson dos Santos

O pequeno distrito de Jupaguá é o cenário de histórias de trabalho árduo, determinação e perseverança. Localizado no coração da Bahia, no município de Cotegipe, essa região é palco de uma epopeia do agro, onde gerações de agricultores desempenharam papéis cruciais no desenvolvimento e prosperidade da comunidade agrícola. 

A história de Jupaguá é repleta de desafios superados, desde o cultivo de algodão e arroz até o funcionamento de uma antiga usina que foi o epicentro de atividades econômicas locais. Conhecer a trajetória e as vivências desses habitantes é mergulhar em um passado que deixou marcas profundas na identidade dessa comunidade. Nesta entrevista, convidamos você a explorar as memórias compartilhadas pelo Sr. Nilson de Assunção dos Santos, um dos residentes mais antigos da região.

Nilson dos Santos – Reprodução: Epopeia do Agro

Para compreender a história de Jupaguá, começamos com as raízes familiares do Sr. Nilson, hoje com 76 anos. Ele nos lembra das origens diversificadas de sua família, destacando a origem de seu pai em Jequié, no sudoeste da Bahia, enquanto o restante de sua família já estava em Jupaguá. 

Distrito de Jupaguá em Cotegipe (BA) – Reprodução: Epopeia do Agro

Uma parte crucial dessa história é a usina que operou na região por mais de um século. A usina desempenhou um papel vital no processamento do algodão, uma das atividades econômicas mais fundamentais da área. O Sr. Nilson compartilha detalhes sobre o processo de separação do algodão e do caroço, conduzido por uma máquina movida a lenha e que funcionava com vapor, dependendo da temperatura para operar. Ele ressalta a importância das mulheres locais, que desempenhavam um papel na seleção e preparação do algodão. A usina tinha como meta uma produção diária de 10 malas de algodão para assegurar a renda da comunidade. 

“Nós trabalhávamos, 4 eram na prensa, mais 1 cinco mais eu e o rapaz 7 e mais ou menos umas 30 mulheres. As mulheres chegavam logo de manhã para abrir os sacos e separar o algodão das pedras, peles ou pedaços de pau, qualquer coisa que pudesse quebrar as máquinas durante a operação. “

A história da usina não se limitava apenas ao algodão. Durante as noites, uma equipe de aproximadamente três pessoas operava a máquina de arroz, mantendo uma produção constante para sustentar a economia local.

Ruínas da antiga Usina de Algodão em Jupaguá – Reprodução: Epopeia do Agro

O transporte do algodão também era um elo essencial nessa história. O Sr. Nilson nos conduz por uma jornada ao longo das estradas que traziam o algodão por caminhões vindos de Goiânia até as cidades vizinhas como Wanderley e Missão de Aricobé. De lá eram levados até a usina por meio de carros de boi, muitas vezes mantendo todos ocupados durante a noite. Quando a manhã chegava, os carros de boi estavam esperando para descarregar. Era um processo constante de descarga, e o algodão tratado posteriormente era enviado para Juazeiro (BA) e Petrolina (PE) a bordo de barcas a vapor que navegavam pelo rio São Francisco.

A movimentação do porto de Jupaguá era vital para o atendimento de vários municípios da região. Segundo o Sr. Nilson, a lista incluía Angical, Missão de Aricobé e Wanderley. As barcas desempenhavam um papel essencial no transporte de mercadorias, trazendo óleo, sal, querosene, alimentos e bebidas, incluindo cerveja e guaraná. Era um meio fundamental de abastecimento para a comunidade e municípios vizinhos. 

“Cansei de estar esperando a barca chegar para trazer uma bebida aqui, cortezano, conhaque, tudo vinha de barca, mas você tinha que esperar a barca chegar, soava a barca, você ia para beira do rio, não sei quanto você ficava esperando para pegar logo, senão quem chegasse primeiro compra”

Margens do Rio Grande em Jupaguá – Reprodução: Epopeia do Agro

O Sr. Nilson lembra que o curso do rio São Francisco mudou ao longo dos anos. O rio costumava ser mais estreito, e as margens eram mais íngremes, como a casa onde a conversa ocorria. Ele recordou épocas em que o rio estava tão cheio que a água derrubou depósitos e estruturas próximas às margens. Durante as cheias, a água chegava tão perto da usina que os barcos de carga podiam ancorar diretamente na calçada da usina para descarregar e carregar algodão. No entanto, quando o nível do rio baixava, o acesso dos barcos à usina se tornava mais difícil, o que poderia causar atrasos nas operações.

A entrevista também destacou os desafios enfrentados pelos moradores para receber cuidados médicos no passado. Em 1966, quando o Sr. Nilson casou, um de seus filhos adoeceu, e a família teve que levá-lo para Barreiras em busca de atendimento médico. Naquela época, os medicamentos eram encomendados e levavam uma semana para chegar, o que tornava a situação ainda mais desafiadora. No entanto, ao longo do tempo, houve melhorias com a chegada de enfermeiros e outros profissionais de saúde

A entrevista com o Sr. Nilson nos proporciona uma visão da Epopeia do Agro em Jupaguá, repleta de tradição, trabalho árduo e uma forte comunidade que desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da região.

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