Carlos Barbosa

Carlos Ernesto Barbosa, conhecido como Carlinhos Gaúcho, compartilhou a história da chegada de agricultores do Sul do Brasil ao Oeste da Bahia, enfatizando as circunstâncias e os desafios enfrentados por sua família e outros agricultores durante esse processo.

No início dos anos 1970, a Cooperativa Cotrisel adquiriu terras no Oeste da Bahia, na área conhecida como “Baixio de Irecê”, com o objetivo de reassentar cerca de 650 famílias que haviam sido deslocadas devido à construção da Usina Hidrelétrica Passo Real no Rio Jacuí, no Rio Grande do Sul. Carlinhos Gaúcho estava entre esses agricultores. A área adquirida pela cooperativa tinha cerca de 27 mil hectares, e em 1978, eles iniciaram os primeiros plantios de soja, milho, milheto e sorgo na região. 

Nesse momento, a falta de estradas diretas tornava a jornada até a região desafiadora, com a BR-116 sendo o principal acesso, passando por Feira de Santana. Essa rota era fundamental para a chegada de pessoas e recursos à região. Carlinhos Gaúcho trouxe consigo maquinaria agrícola, incluindo colheitadeiras, e também trouxe conhecimentos técnicos que contribuíram para a mecanização da agricultura na região. A primeira colheitadeira que trouxe para a região foi uma jornada épica. Ele a transportou em uma carreta, uma viagem que durou 12 dias. Ao chegar na Bahia, ninguém na região conhecia a colheitadeira, e quando ele passava pelos postos policiais, todos queriam subir na máquina para ver. 

A cooperação com a prefeitura de Jussara, onde inicialmente os agricultores se estabeleceram, foi essencial. Eles forneciam a maquinaria, enquanto a prefeitura fornecia óleo e outros recursos para melhorar as estradas e a infraestrutura local. Mais tarde, à medida que expandiram sua presença para a região de Irecê, essa colaboração continuou a ser um fator importante no desenvolvimento da região.

A primeira área de soja colhida foi de Osmar Felix Tarrão, que posteriormente se tornou prefeito de Jussara. Enquanto a média de produção da soja no Sul do Brasil era de 45 sacas por hectare, Carlinhos conseguiu colher no Oeste da Bahia 51 sacas por hectare sem a aplicação de adubos ou outros insumos. A produção de soja foi vendida para a empresa Primor, que tinha uma parte em Feira de Santana, Bahia, e outra parte em Recife, Pernambuco.

No entanto, com o tempo, muitos agricultores se deslocaram para outras empresas, e a cooperativa passou por mudanças, sendo vendida para a Copene e, posteriormente, para a Odebrecht. Isso resultou em alguns agricultores indo trabalhar em Entre Rios, na Bahia, enquanto outros permaneceram na região do Oeste da Bahia. Hoje, restam cerca de 10 a 12 produtores na região que iniciaram sua jornada junto com Carlinhos Gaúcho.

 Entrevista com Carlos Barbosa – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

A migração de agricultores do Sul do Brasil para regiões como Irecê e o Oeste da Bahia na década de 1970 e 1980 ocorreu por vários motivos. Primeiramente, a região Sul estava se tornando mais densamente povoada, com terras agrícolas já ocupadas ou consolidadas. Isso forçou muitos agricultores a buscar novas oportunidades em áreas mais extensas e férteis.<

Além disso, houve um incentivo para o desenvolvimento da região do cerrado por meio de projetos do governo e o crescente interesse de cooperativas e empresas agrícolas. Como mencionado em outras entrevistas, o Programa de Cooperação Nipo-Brasileiro para o Desenvolvimento Agrícola dos Cerrados (Prodecer) e o Plano de Assentamento Dirigido do Distrito Federal (PAD/DF) desempenharam um papel significativo.

A chegada dos agricultores sulistas marcou o início de uma nova fase na agricultura do Oeste da Bahia, uma fase de desafios superados com determinação, cooperação e adaptação. A tradição agrícola de Carlinhos Gaúcho é enraizada na história de sua família. Tanto seu avô quanto seu bisavô eram agricultores, e essa tradição foi transmitida de geração em geração. Carlinhos vem de uma grande família composta por dez irmãos, seu pai, também agricultor, possuía cerca de 80 hectares de terra.

Na época, a família possuía uma variedade de equipamentos agrícolas, incluindo colheitadeiras, tratores e caminhões, o que lhes permitia realizar o plantio e a colheita em larga escala em curtos períodos de tempo. Durante a entrevista, Carlinhos compartilha informações sobre sua família e a diversidade de ascendências presentes nela, incluindo italiana, alemã e portuguesa. Ele menciona que alguns de seus irmãos permaneceram na região do Sul do Brasil, enquanto outros se espalharam por diferentes localidades. Por exemplo, um de seus irmãos reside no Piauí, onde administra uma fazenda de caju e produção de leite, entre outras atividades agrícolas. Outro irmão trabalha como agrônomo em uma fazenda no Mato Grosso. Além disso, um terceiro irmão estava em Palmas, Tocantins, atuando na secretaria de agricultura da cidade.

Carlinhos Gaúcho e seus irmãos receberam formação técnica na área agrícola ao frequentar uma escola agrícola federal no Sul do Brasil. Essa formação proporcionou oportunidades de trabalho para construir uma carreira dentro e fora da agricultura em diferentes regiões do Brasil.  

Graças a sua trajetória de vida, Carlinhos Gaúcho conseguiu formar sua família, abrir uma churrascaria que opera há 28 anos e ainda mantém sua fazenda. Ele expressa sua satisfação por ter seguido esse caminho, em comparação com a alternativa de permanecer na região sul do Brasil, onde teriam sido apenas funcionários de uma empresa e não teriam as oportunidades que encontraram na nova região. Ele também comenta sobre a valorização das terras na região original e as dificuldades que enfrentariam lá, especialmente devido ao tamanho das propriedades e ao alto custo da terra.

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