Moacir Hope

Agricultor do Rio Grande do Sul, chegou ao Oeste da Bahia há cerca de 30 anos. Moacir Hope é um dos oito filhos que trabalhou nas terras da família, inicialmente com técnicas tradicionais, como arados de boi, na produção de arroz, milho e feijão. Ele se formou no curso técnico em Agropecuária para se aprofundar na aprendizagem das novas técnicas de cultivo. 

Sua jornada para o Oeste da Bahia começou quando foi convidado pelo agrônomo Ilmar Roberto Vieira, que atualmente é um empresário sediado em Goiânia, envolvido na produção de produtos biológicos para a agricultura. Moacir ficou impressionado com a topografia e os preços acessíveis das terras na região. Em 1989, ele se estabeleceu na região com um financiamento do Banco do Brasil e começou a trabalhar com 300 hectares.

Entre 1994 e 1995, os inúmeros planos econômicos afetaram negativamente a agricultura na região. Para tentar congelar os preços dos produtos agrícolas, os financiamentos que haviam sido obtidos com o Banco do Brasil passaram por correções monetárias significativas. Isso resultou em aumentos exponenciais nas dívidas dos agricultores, com taxas de correção mensais variando de 18% a 84%. Por exemplo, um agricultor que havia tomado um empréstimo de 100 mil reais para financiar máquinas ou custeio inicial poderia acabar devendo um milhão a um milhão e meio de reais devido a essas correções. Muitos agricultores, incluindo alguns do Sul, não conseguiram superar essa crise e abandonaram suas fazendas.

Moacir e seus irmãos perseveraram e ajudaram a desenvolver o Oeste da Bahia em uma época em que havia pouca tecnologia e infraestrutura. Eles também aprenderam a importância da “chuva do caju” e a janela de plantio estreita na região. A expressão “chuva do caju” é usada para descrever um período de chuvas intensas que ocorre no início da estação chuvosa. Em regiões do Nordeste do Brasil onde o caju é uma cultura significativa, essa chuva é importante para determinar a qualidade da safra, já que influencia a colheita e produção dos cajus. 

Ao longo dos anos, com a ajuda de empresas de sementes, máquinas, calcário e fertilizantes, além do trabalho da Embrapa e agrônomos, a agricultura na região progrediu. Moacir e outros agricultores obtiveram apoio de empresas compradoras de produção quando o Banco do Brasil parou de financiar a agricultura local devido a preocupações de viabilidade. A partir dos anos 2000, houve uma grande transformação quando novas variedades e tecnologias agrícolas estavam disponíveis. Isso impulsionou o desenvolvimento significativo do Oeste da Bahia nos anos seguintes, com os bancos investindo na agricultura devido à sua confiança na capacidade produtiva dos agricultores locais.

Vindo do Sul do Brasil, Moacir e outros agricultores viram a necessidade de criar um sindicato para defender os interesses dos produtores rurais. Eles buscaram orientação com base em suas experiências no Sul e, com o apoio de políticos locais e do SENAR (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), trabalharam para estabelecer o Sindicato dos Produtores Rurais de Luís Eduardo Magalhães (SPRLEM). A ideia era criar um sindicato abrangente que unisse os agricultores de vários municípios da região, fortalecendo assim sua representação.

O sindicato ganhou credibilidade ao longo dos anos e se tornou uma referência nacional em defesa dos produtores rurais. Eles conseguiram construir uma sede ampla com o apoio dos próprios agricultores e empresários do agronegócio. Para continuidade deste trabalho, Moacir enfatizou a importância da parceria com entidades, como o Sindicato dos Produtores Rurais de Barreiras (SPRB), a Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (AIBA), Associação Brasileira de Produtores de Soja (APROSOJA) e Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA).

Moacir Hope durante a entrevista com David Schmidt – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

 

A fundação do sindicato em Luís Eduardo Magalhães (SPRLEM) teve o apoio de políticos que estavam comprometidos com o desenvolvimento da região Oeste da Bahia. Eles buscaram a emancipação da cidade, que originalmente se chamava Mimoso do Oeste, e conseguiram renomeá-la em homenagem ao falecido deputado federal Luís Eduardo Magalhães, filho de ACM (Antônio Carlos Magalhães), um líder influente na região.

Jusmari Oliveira, uma deputada local, desempenhou um papel fundamental na sensibilização das autoridades estaduais e federais para a emancipação de Luís Eduardo Magalhães. Seu esposo, Oziel Oliveira, também eleito prefeito, participou da iniciativa de criar e desenvolver a cidade. Para estabelecer um sindicato forte na região, eles entraram em contato com João Martins da Silva Júnior, atual presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Na época, João Martins estava filiado a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (FAEB), ele apoiou a organização da diretoria do SPRLEM, a elaboração dos estatutos e o registro da entidade sindical em Brasília. João Martins trouxe uma nova visão ao dinamizar o sindicato na Bahia como um todo, incluindo a região do Oeste da Bahia.

Na época, Moacir e outros membros do sindicato de Luís Eduardo Magalhães promoveram uma visita da diretoria da FAEB à região, onde foram apresentadas as fazendas e a agricultura em crescimento. Os visitantes ficaram impressionados com a pujança da agricultura na área, que já estava começando a se desenvolver significativamente a partir do ano 2000.

A visita proporcionou à FAEB uma visão mais clara do potencial do Oeste da Bahia como uma região agrícola em crescimento. Desde então, a federação tem mantido um relacionamento próximo com a região, com a presidência de Humberto Miranda assumindo o compromisso de continuar apoiando o desenvolvimento do agronegócio local.

Por essas razões, Moacir Hope destaca a importância do sindicato para o desenvolvimento rural do Oeste da Bahia. Ele menciona que o sindicato desempenha um papel crucial na formação de jovens agricultores, oferecendo cursos e treinamentos para prepará-los para trabalhar na agricultura moderna, que requer conhecimento avançado em tecnologia e maquinaria agrícola.

Os sindicatos desempenham um papel fundamental na representação dos interesses dos produtores rurais em níveis estadual e federal, trabalhando para desenvolver políticas agrícolas e defendendo os direitos dos agricultores. 

Moacir Hope acredita que é essencial preservar a história dos pioneiros e da formação do sindicato para que as gerações futuras compreendam o esforço e a luta que foram necessários para construir a agricultura na região. 

“Queremos que eles compreendam que o agronegócio é uma parte essencial da economia brasileira, e é importante que as terras do Brasil permaneçam nas mãos daqueles que têm o conhecimento e a capacidade de produzir. Não queremos que as terras sejam transferidas para investidores estrangeiros sem experiência na agricultura. Portanto, é crucial inserir os jovens no setor agrícola e permitir que eles continuem o trabalho que começamos. Eles são o futuro da agricultura no Oeste da Bahia e devem ter a oportunidade de contribuir para o desenvolvimento dessa região, assim como nós fizemos.“

A história dos pioneiros no Oeste da Bahia é uma narrativa de superação, crescimento e dedicação à agricultura. É um legado que deve ser compartilhado com as gerações mais jovens, para que compreendam o valor do trabalho árduo e da resiliência no desenvolvimento da região.

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