Família Schmidt

Helena Schmidt e seu filho, Paulo Almeida Schmidt, narram memórias da chegada no oeste da Bahia. Dona Helena, a matriarca da família, nasceu em Campo Novo, Rio Grande do Sul, em 1952, filha de comerciantes, irmã de 4 homens. Seus pais iniciaram na agricultura plantando batata, milho, feijão, mandioca e soja como pequenos produtores. Veio para o oeste com seu esposo, Paulo Ambrósio Schmidt, com o objetivo de cultivar as terras do cerrado baiano.

Moravam em Foz do Iguaçu, e plantavam em terras paraguaias, eram 130 há arrendados em Inandária.

Tinham a intenção de comprar essas mesmas terras, mas um dia em um churrasco, com um colega que era tenente do BEC de Foz do Iguaçu ficaram sabendo da abertura da estrada Brasília-Barreiras, e que estavam incentivando a agricultura na região.

Paulo era um homem curioso, empreendedor nato e sempre gostou muito da agricultura e com isso queria crescer nessa atividade, foi então que veio em 1979 para o oeste conhecer as novas terras com mais 4 de seus amigos, Darci Pomer, Danilo.

Já na região, encontrou o Sr. Constantino e dona Lídia, os corretores de terras, saíram então para conhecer o lugar. Gostou muito da região, e para ter certeza do que iria comprar, em cada fazenda que passava, coletava solo para fazer análise para ter conhecimento do potencial agrícola.  Encontrou um local de 6 mil há, que achava ser bom, voltou para o Rio Grande para conseguir o dinheiro para comprar as terras.

“Ele levou solo para análise, levou meia Belina de terra, cavou em todos os cantos” (Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

Na mesma época, o Mato grosso estava expandindo as áreas agrícolas, assim como Manaus e Boa Vista, mas a opção de vir para a Bahia foi porque aqui as árvores eram menores, se tinha mais facilidade para abrir as áreas que seriam cultivadas, era mais barato comparado ao custo de abertura da região do Mato Grosso ou Boa Vista.

“Certa vez Paulo e o Sr. Casali entraram na região, onde é hoje Placas, isso foi umas 3 ou 4 horas da tarde, e se perderam na planície. Aqui era cheio de mangaba, jatobá, tinham muitas outras árvores e eles se perderam no cerrado por causa da imensidão de terra, passaram a noite, saíram no outro dia acompanhando a beira do rio, se nortearam pelo cruzeiro, verificando o norte e o Sul, ninguém vinha pra esses lados, só nós mesmo, perder era um perigo.” (Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

A nova estrada tinha pedaços prontos e outros ainda eram puro atoleiro.

Chegando aqui foi plantado primeiro o arroz, pois não havia informação técnica suficiente para saber se era possível plantar soja.

O arroz era uma cultura barata, e o soja, o custo era muito alto para arriscar sem ter certeza das condições edafoclimáticas.

O único local onde se discutia como fazer agricultura na região era no escritório do engenheiro agrônomo e produtor Antônio Guadagnin, lá os produtores passavam horas no mate e conversavam.

“Quando chegamos aqui não tínhamos funcionários, não tinha tecnologia, não tinha nada.” (Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

“Aqui os solos são muito ácidos, primeiro se plantava arroz para amansar o solo” (Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

“A primeira safra deu arroz, dava pra pagar o banco.”(Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

Paulo foi uns dos primeiros produtores da região que iniciou o sistema de plantio direto e também plantas de cobertura, plantou aveia nos intervalos das culturas. Trouxe essa tradição de manejo de sua região de origem, onde já era bem estabelecida.</p Como uma pessoa inovadora, lia muito, tinha muito conhecimento prático, todos que conversavam com ele achavam que era agrônomo.

“Tínhamos dois funcionários, um veio conosco do Sul e o outro foi quem trouxe a mudança e ficou trabalhando para nós.

Quando as pessoas da região começaram a trabalhar conosco passamos por situações difíceis, nem a comida que a gente oferecia não comiam, eles queriam cuscuz. Nós não sabíamos fazer o cuscuz, tínhamos pão, bolo, mas não era costume deles esses alimentos. Tudo era difícil, água, comida, tínhamos que ir até Barreiras, fazer rancho lá.”(Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

Familia Schmidt
Família Schmidt

“A região oeste era bem diferente do Sul, muito quente e na época do plantio chovia muito, o que alagava tudo e depois eram seis meses de seca. Mas mesmo assim ainda tinha região que não chovia, muitos agricultores achavam que era igual ao Paraná, e não conseguiram se adaptar, mas Paulo nessa época já conhecia, ele já tinha feito toda a verificação de clima, condições, quantidade de chuva.” (Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

Fizemos inicialmente um galpão grande, metade era cozinha, tinham os quartos dos funcionários, o meu quarto e os maquinários, tudo junto nesse mesmo galpão, guardava semente, adubo e o que mais que precisasse. O banheiro ficava afastado, e toda a água que era usada pegávamos no rio, uns 13 km, também recolhíamos a água da chuva, que caia do telhado para outras necessidades. Não tínhamos energia, era na base do lampião, mas chegávamos tão cansados da lavoura que dava tempo só de jantar e já íamos dormir, acordávamos no outro dia pra trabalhar, era essa nossa rotina.

A família trouxe dois tratores do sul e com eles começaram a abrir as áreas. Na sequência foi comprado um CBT mais novo. A própria família que limpava o solo, fazia o preparo com o auxílio de uma grade aradora.

A venda do arroz era feita para o Iris Basso, quem inicialmente comprava, depois, Paulo montou uma beneficiadora, foi quando ganhou um dinheirinho, já vendia beneficiado, a medida usada era o “prato”, porque não tinha balança.

No começo era cara e coragem para plantar, todos faziam assim, depois os projetos foram iniciados para conseguirem os financiamentos do banco. O grande problema aqui na região é que ninguém acreditava que pudesse ser produtiva.

“Não tínhamos recurso nenhum, era um desafio, tudo tínhamos que arrumar e comprar em Barreiras. Todo produtor na época sabia montar e desmontar o motor de um trator, o agricultor era mecânico, agrônomo, quem resolvia tudo na propriedade.” (Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

“Me lembro das histórias de pai, que falava de quando a Ceval chegou aqui, eles iniciaram o mercado, plantavam arroz e soja. Depois do arroz começou a entrar soja, na sequência começaram a testar outras culturas: milho, feijão, algodão. A dobradinha milho e soja foi muito boa.” (Paulo Almeida Schmidt, filho de Paulo Ambrósio Schmidt e de Helena Almeida Schmidt)

Helena Schmidt
Helena Schmidt na plantação de algodão da sua família

“Não tínhamos armazém, na época se colhia a soja se fazia “os piscinões”, era estendida uma lona, fazia um muro de sacas, e enchia de soja, quando vinha chuva cobria” (Paulo Almeida Schmidt, filho de Paulo Ambrósio Schmidt e de Helena Almeida Schmidt)

“Toda cultura que chega na região o povo planta pra ver como é, começa olhar e entender a cultura, na época não tínhamos informação, hoje tem internet e informação, se pagava caro pra aprender.” (Paulo Almeida Schmidt, filho de Paulo Ambrósio Schmidt e de Helena Almeida Schmidt)

“Meu pai tinha uns livros que são usados até hoje na agricultura, manual de micronutrientes do Malavolta, de plantas daninhas, de pragas. No carro, atrás era cheio de livro. Eu usei os mesmos livros na faculdade, então para época ele estava na frente de muita gente, a informação que ele tinha era muito preciosa, ele lia e seguia o que estava recomendado.” (Paulo Almeida Schmidt, filho de Paulo Ambrósio Schmidt e de Helena Almeida Schmidt)

“Quando a soja dava uma folha amarela ele colhia as folhas, chegava com um saco, batia a foto de tudo e comparava no livro, lia e aplicava o remédio certo. Os agrônomos da época, seu Claudio, Guadanin, Marafiga, se reuniam no escritório de consultoria e discutiam os problemas das culturas.” (Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

“A inovação de plantar no cerrado era tão grande que não existiam faculdades que entendiam o cerrado. Se você chegasse para um professor universitário a 20 anos atrás e perguntasse se isso vai dar certo, uma boa parte falaria que não, cerrado não vai dar certo.”” (Paulo Almeida Schmidt, filho de Paulo Ambrósio Schmidt e de Helena Almeida Schmidt)

“Me lembro uma vez Paulo separava todas a folhas que apresentavam problemas, e uma vez o vento misturou tudo, não contei até hoje, me desesperei, separei umas folhas, juntei tudo, fiquei quieta. Ele separava tudo, as manchas amarela, preta, ferrugem e ele olhava no livro, no catecismo.” (Helena Almeida Schmidt, matriarca da família Schmidt)

“Meu pai não tinha muito estudo, mas estudava muito, ele acreditou, desenvolveu e a região, cresceu e virou a potência que é hoje” (Paulo Almeida Schmidt, filho de Paulo Ambrósio Schmidt e de Helena Almeida Schmidt)

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