Ivone Zanotto

Ivone Zanotto nasceu em Palmeiras, Rio Grande do Sul, e é filha de agricultores. Na região, plantava-se fumo, com a família também envolvida em serralharia. Sua infância foi marcada por trabalho na lavoura e na escola. Na época as mulheres se envolviam tanto com trabalho doméstico quanto na agricultura. Dona Ivone é uma de 12 irmãos. Aos 13 anos, mudou-se para o Paraná com a família, buscando melhores condições de vida e trabalho.

Em 1978 casou-se com Dionísio Zanotto. Após três anos, a família Zanotto deixou o estado do Paraná e veio se estabelecer no oeste da Bahia, com a aquisição de uma propriedade, na região do novo Paraná. A região fica aproximadamente a 20 km de Luís Eduardo Magalhães (LEM), onde hoje existe o povoado do Novo Paraná, oficializado como distrito de LEM. Com uma população de duas mil pessoas e uma área de aproximadamente 100 hectares, o Novo Paraná é o lar dos Zanotto.

Dona Ivone Zanotto nos contou que, na época da mudança, apesar de ser uma novidade, não achou difícil se adaptar. Trouxeram uma casa de madeira do Paraná e a instalaram à beira do rio Borá, onde criou sua primeira filha. Nesta nova vida, ela desempenhava diversas funções na fazenda, desde cozinhar para os funcionários até puxar água do rio, atividades que já estava acostumada a fazer desde a infância, quando ajudava seus pais na lida da roça.

A energia que abastecia a casa era fornecida por um gerador a diesel, que só podia ficar ligado por algumas horas, devido à escassez de combustível. Lampiões a gás eram usados para iluminar a noite, e até a geladeira funcionava a gás. Após cerca de quatro anos, a energia elétrica foi instalada, o que permitiu melhorias, como a instalação de um motor para puxar água do rio e abastecer a casa. A senhora Ivone relembra:

Havia dias em que levantávamos sem saber o que fazer, porque não tínhamos absolutamente nada. Em Barreiras, só havia um supermercado e uma padaria dentro do antigo Pinguim, que hoje não sei o que se tornou. Não existiam telefones nem televisão por perto, exceto nos postos como o Banco do Brasil, Polícia Federal e Receita. Lembro que apenas cinco lugares tinham telefone em Barreiras. Quando íamos à cidade uma vez por mês, resolvíamos tudo durante o dia e, antes de voltar para casa, ficávamos na fila na Telebahia para ligar para os parentes no Paraná.” 

Ivone Zanotto em entrevista – Reprodução: Epopeia do Agro, 2021

Quando estava grávida de sua segunda filha, aos 8 meses de gestação, Ivone Zanotto lembra que não se sentia bem e precisou ir a Barreiras para ver um médico. Nesse dia, estava aplicando veneno com a máquina nas costas. Ao chegar em Barreiras, o médico informou que faria o parto naquele dia mesmo, o que foi um choque para todos. “A mais velha tinha nascido de 7 meses e ela uns dias para 8 meses, não tinha levado nada”, lembra Ivone. Com o apoio de um conhecido que morava lá, ela deu à luz sua filha. Depois de 8 dias, retornou para casa e continuou seu trabalho na fazenda sem interrupções.

Dona Ivone sempre enfrentou os desafios com determinação, procurando soluções para as dificuldades. Criada na roça, ela valoriza esse ambiente e incentiva seus filhos a permanecerem na fazenda, mostrando-lhes a importância do trabalho e como o sustento da família é obtido. Para ela, a cidade é algo estranho, e a vida no campo é o que realmente importa.

Dionísio e Ivone Zanotto em sua propriedade rural, visitando a plantação de algodão em 2021

A lição que Dona Ivone pode deixar para as futuras gerações, especialmente para as mulheres no agronegócio, é a importância de incentivar os filhos a se envolverem na fazenda e compreenderem de onde vem o sustento familiar. Ela destaca que, mesmo que as crianças não compreendam completamente no momento, é essencial que saibam sobre a produção agrícola e o trabalho árduo envolvido. Para ela, a agricultura não é apenas uma profissão, mas também uma paixão que ela carrega desde sempre. Assim, ela encoraja sua família e outras pessoas a permanecerem na agricultura, pois acredita ser a melhor opção para aqueles que cresceram nesse meio.

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