Odir Pradella

Odir Pradella compartilha suas experiências ao deixar Palotina, no Paraná, para se estabelecer no Oeste da Bahia. Nesta entrevista exclusiva, ele discute as dificuldades de acesso à cidade e as longas viagens necessárias para obter suprimentos naquela época.

Em 2001, a família Pradella ouviu falar sobre as terras no Oeste da Bahia por meio de um corretor que apareceu na comunidade deles no Sul e fez uma proposta para três famílias, incluindo a de Odir, Aralve e Cantu. Quando decidiram se mudar, consideraram outras opções, como o Mato Grosso, mas optaram pelo Oeste da Bahia, influenciados por outras famílias da região que já haviam se estabelecido aqui. Na década de 1970, várias famílias da vizinhança também se mudaram para a região, com cerca de 9 a 10 famílias chegando à Coaceral – Cooperativa Agrícola do Cerrado do Brasil Central.  

Odir Pradella e sua família já estavam trabalhando na agricultura há cerca de 10 anos em Palotina, mas pararam de investir naquela região devido ao alto custo da terra. Perceberam que, se permanecessem lá, teriam que esperar décadas para expandir seus negócios. Sair de Palotina para buscar terras maiores e mais valorizadas no Oeste da Bahia era uma estratégia para acelerar seu crescimento. Eles decidiram se mudar para um local mais distante para adquirir mais terra e obter valorização ao longo do tempo.

Quando a família adquiriu as terras no Oeste da Bahia, elas custavam 25 sacos de soja por hectare, parcelados em 4 vezes. Em comparação, na região de Palotina, as terras valiam de 1000 a 1100 sacos por alqueire, o que equivaleria a 400 sacos por hectare. Atualmente, os preços das terras na região da Coaceral são difíceis de precisar devido a impasses em andamento. Odir Pradella estipula valores na faixa de 250 a 300 sacos por hectare, e há relatos de negócios que chegaram a 400 sacos por hectare. 

Odir Pradella durante a entrevista com a equipe – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

A gleba que Odir Pradella e sua família adquiriram fazia parte de uma área maior que pertencia à Fazenda São José. Essa fazenda original abrangia cerca de 360 mil hectares, e a parte que eles compraram era um remanescente de aproximadamente 52 mil hectares, localizado na região mais afastada da fazenda, abrangendo o fundo da propriedade. Essa divisão não está diretamente relacionada ao programa Prodecer, mas sim à estruturação da Fazenda São José.

Começar o plantio nas novas propriedades foi um desafio, pois a região de Palotina, onde estavam anteriormente, apresentava um clima de chuvas constantes ao longo do ano, permitindo safras em qualquer período. Entretanto, na Bahia, as chuvas são mais definidas, exigindo uma adaptação no manejo das terras. 

Inicialmente, ao adotar o sistema de plantio direto na Bahia, eles começaram com uma técnica quase como um “cultivo mínimo”. Posteriormente, exploraram alternativas, como o sistema Santa Fé, que envolve três safras de soja intercaladas com uma safra de milho, com o objetivo de melhorar o manejo e a produtividade agrícola.

Com o tempo, aprimoraram sua técnica, adotando um ciclo de duas safras de soja e uma de milho com capim braquiária em consórcio para produção de biomassa, estabelecendo um rodízio nos campos, alternando o plantio de milho e soja. Este método tem sido eficaz, independentemente do mercado, pois mantém o rodízio, garantindo uma rotação das culturas. Atualmente, o milho está plantado na metade de um campo, no próximo ano será na outra metade, e no ano seguinte se alterna entre as extremidades do terreno, seguindo esse ciclo.

David Schmidt em entrevista com Odir Pradella – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

O senhor Odir explica que quando começaram o plantio direto na Bahia, usaram máquinas que tinham trazido do Sul, incluindo uma plantadeira que ainda estava em uso. Naquela época, não havia máquinas John Deere ou outras marcas de qualidade para o plantio direto na região. Eles começaram com uma máquina simples da marca Semeato, que, apesar de ter peças vindas do Sul, nunca enfrentou problemas sérios de falta de peças. Sempre que precisavam de peças, faziam pedidos por meio de um sistema de comunicação que incluía um posto telefônico na vila, onde colocaram rádios em suas casas para facilitar a comunicação.

Para reparos e manutenção mais complexos, como desmontagem de máquinas, eles contavam com a ajuda de mecânicos locais, em Barreiras (BA) e, em algumas ocasiões, mecânicos do Sul do Brasil. Eles também faziam a manutenção preventiva de suas máquinas para minimizar as interrupções no meio do plantio ou da colheita. Posteriormente, com a chegada da internet, o processo de solicitação de peças e comunicação melhorou significativamente.

O senhor Odir explica que a casa onde vivem teve uma história peculiar. Ela foi originalmente construída com madeira nova, desmontada e reconstruída uma segunda vez, até que finalmente foi desmontada e a madeira foi trazida para a fazenda na Bahia. Seu pai liderou a equipe que trouxe a madeira e, com a ajuda de um tio e outros trabalhadores da região, a casa foi montada em poucos dias. Eles também mencionam que outra família na região fez algo semelhante, trazendo a madeira de uma casa do Sul e construindo-a novamente na Bahia.

Nos primeiros dias de sua chegada à fazenda, eles dormiam em uma pequena carretinha, onde havia colchões e espaço para acomodar. O senhor Odir observa que, no começo, eles viviam de maneira bastante simples, mas à medida que se estabeleciam, pararam de acampar e construíram alojamentos mais adequados.

Quando chegaram à fazenda, contrataram a perfuração de um poço artesiano, o que lhes forneceu acesso à água. Isso representou uma melhoria em relação ao acampamento, onde precisavam se locomover para obter água. Posteriormente, eles venderam uma parte da propriedade original para viabilizar a aquisição de uma área menor que fazia parte do negócio atual. A família manteve algumas terras no Paraná, que originalmente pertenciam aos pais, mas o senhor Odir e seu irmão transferiram todas as suas áreas para a Bahia.

Odir Pradella – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

Em 2001, a primeira cultura que o senhor Odir plantou na fazenda foi arroz. No entanto, o clima não foi favorável naquela temporada, e a produção de arroz teve problemas devido a um período de veranico, com chuvas intermitentes, o que resultou em baixos rendimentos. Eles colheram apenas 4 sacos de arroz por hectare, o que causou prejuízos financeiros.

A comercialização do arroz foi principalmente interna, na região de Barreiras, com vendas para diferentes compradores locais. No segundo ano, eles começaram a plantar soja em vez de arroz, e a partir de então, as novas áreas foram abertas principalmente com o cultivo de soja.

Os primeiros anos da produção de soja também enfrentaram desafios climáticos, mas ao longo do tempo, eles aprimoraram suas técnicas e obtiveram médias de produtividade mais elevadas. Hoje, com as áreas consolidadas e investimentos em tecnologia e manejo, eles estão colhendo em média 65-68 sacos de soja por hectare, com alguns anos excepcionais que chegaram a 79 sacos por hectare.

O senhor Odir menciona que em 2016, devido a problemas climáticos, uma parte da colheita atingiu apenas 32 sacos por hectare, e algumas áreas tiveram rendimentos ainda mais baixos, com apenas 10 sacos de soja por hectare. Isso destaca a variabilidade da produção agrícola, que pode ser afetada por condições climáticas imprevisíveis.

Nessa parte da entrevista, Odir fala sobre o “Pradellão”, uma máquina criada pela família Pradella. A história do “Pradellão” nasceu da necessidade de criar uma barra de pulverização mais larga do que as disponíveis no mercado. A família Pradella inicialmente operava uma máquina de pulverização com uma barra de 17 metros, mas buscava aumentar essa capacidade. A ideia surgiu quando Luís Pradella, com experiência como instrutor do SENAR, observou inovações no Sul do Brasil, onde agricultores adaptaram um equipamento de pulverização em cima de um trator. Essa inspiração levou à criação de sua própria solução.

A máquina de pulverização chamada de “Pradellão” – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

Odir e sua equipe resolveram adaptar o chassi de um ônibus escolar para construir a primeira barra de pulverização de 50 metros. Após quatro safras com essa barra, fizeram ajustes e reformas, expandindo o chassi, alterando o suporte e os rodados, e ampliando a cobertura para 60 metros. O equipamento mostrou um menor consumo de combustível e uma redução no amassamento das trilhas nas culturas, permitindo que a faixa seja utilizada por várias safras,  resultando em uma aplicação mais uniforme dos defensivos agrícolas nos cultivos.

Detalhes da barra de pulverização do “Pradellão”

Além disso, a família Pradella mantém um forte compromisso com o plantio direto, cuidando das trilhas que são essenciais para a eficácia do sistema. Este cuidado demonstra o foco em práticas sustentáveis e na manutenção da qualidade do solo. Juntos, esses aspectos destacam a importância da inovação, da busca por soluções práticas e do compromisso com a agricultura sustentável na história da família Pradella.

No manejo de insumos da fazenda, o enfoque atual é na aplicação superficial. Embora inicialmente tenha havido dúvidas sobre essa abordagem, o último ano trouxe  bons resultados com a soja. Os insumos, como calcário, gesso e adubos NPK, são aplicados diretamente na superfície do solo. Para melhorar a distribuição dos insumos, houve a adaptação de uma plantadeira antiga para servir como adubadora. Essa mudança levou a uma melhora na uniformidade das faixas na fazenda. Além disso, foram feitos esforços para aumentar as doses de calcário em algumas áreas, resultando em uma melhora no perfil do solo.

A estruturação do solo é considerada crucial, pois áreas bem estruturadas tendem a obter melhores produtividades, especialmente em condições climáticas desafiadoras. No entanto, questões econômicas, como os preços dos insumos e garantias de entrega, afetam as decisões de adubação. Isso torna o manejo de insumos agrícolas um tópico crítico de discussão na fazenda.

Odir Pradella em cima da máquina inventada pela família – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

A essência da família Pradella está na capacidade de inovação e na adaptação às necessidades. Eles têm uma abordagem prática para a melhoria de equipamentos e processos em sua fazenda. Sempre que identificam um problema ou uma oportunidade, eles buscam soluções criativas e fazem as modificações necessárias. Isso resultou em várias adaptações em suas plantadeiras, tratores e outros equipamentos ao longo dos anos.

A topografia favorável da fazenda permite que eles realizem essas modificações com facilidade, tornando a fazenda um local ideal para experimentar inovações. Eles também foram cuidadosos em planejar sua rede de energia para otimizar a operação, garantindo uma distribuição eficiente de eletricidade. Por exemplo, eles alongaram os compactadores das plantadeiras, modificaram os cabeçais e instalaram adaptadores para várias funções. A fazenda também possui uma rede de energia bem planejada, que tornou a operação mais prática. 

Os Pradellas valorizam a atenção aos detalhes e a adaptabilidade, reconhecendo que, com o tempo, a capacidade de inovação é fundamental para enfrentar desafios e melhorar a produtividade. Eles veem a tecnologia como uma aliada e estão dispostos a adotar novos métodos sempre que necessário.

Odir Pradella fala sobre a sua visão de futuro – Reprodução: Epopeia do Agro, 2022

A visão de futuro de Odir Pradella reflete uma jornada de aprendizado e evolução constante. Quando questionado se valeria a pena fazer tudo de novo, Odir expressa sua prontidão para reiniciar essa jornada, embora reconheça que, devido ao tempo decorrido e a sua idade atual, a dinâmica e a disposição para assumir desafios podem ser diferentes. Nessa reflexão sobre o passado e o presente, Odir enfatiza como as condições e desafios mudaram significativamente desde o início da empreitada na fazenda. Ele aponta as dificuldades que foram superadas e a forma como as circunstâncias melhoraram com o tempo, tornando a condução das operações mais tranquila e acessível do que nos primeiros dias.

A entrevista com Odir Pradella ilustra não apenas a jornada de uma família na agricultura, mas também a importância de encontrar equilíbrio entre a tradição e a inovação para enfrentar os desafios do futuro. Descubra mais histórias inspiradoras de famílias agricultoras vindas do Paraná, no sul do Brasil, para o Oeste da Bahia.  Clique aqui para explorar suas experiências.

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